ERA UMA FORMA BRANCA, E ELA GIROU PELO AR, os brilhos prateados do paradoxo tornando o movimento ofuscante. O pé de Dova acertou a forma difusa mais próxima de um dos camaleões-do-meio-dia, rompendo em parte sua coesão. A garota vê que o golpe não fora tão efetivo, e em sua mão esquerda – para o espanto de Azif e Euro – se materializa um espécie de maça ou báculo, e com essa arma-paradoxo Dova vibra outro golpe, antes que o camaleão possa reagir, e em segundos ele está destruído, apenas uma onda de calor que se dissolve ao vento.
Como se impelido pelo exemplo de Dova, um vulto assomou o campo de batalha, a cimitarra negra brandida em alta velocidade, um movimento mais teleporte que corrida física; e em menos segundos ainda, com extrema precisão, Azif eliminava toda uma porção do enxame de lampreias-voadoras.
“Uau! Nunca pensei que pudesse fazer isso!”
Quantas vezes já disse, soou a voz na mente de Azif, fale menos e teria agido mais rápido. O uniforme-paradoxo vermelho guiou os movimentos de Charya, e com uma força brutal a moça desferiu quatro golpes de katana na desconhecida de uniforme azul; a potência dos ataques era enorme, mas a mocinha de azul se esquivou graciosamente de três deles e ainda aparou o quarto com sua espada curta. Me ajudem a derrubar esta aqui! Gritou a voz de Charya na mente de Dova, Euro e Azif. Se ela for derrotada, os enxames vão fugir.
Enquanto essa ação acontecia e os quatro nômades do lado de Charya tentavam conter tanto camaleões quanto lampreias, um estrondo se fazia ouvir com Euro investindo contra as criaturas que atacavam os quatro contrabandistas. A veste amarelo e dourada parecia ter aumentado ainda mais a força física do meio-neander, e ao contrário de seus colegas de uniforme, desferia socos e murros devastadores contra seus inimigos. Parecia que cada golpe de Euro tinha o poder de desmanchar até mesmo átomos: essa ilusão era proporcionada pelo fato de cada soco desintegrar um camaleão, não fazendo restar nem mesmo a onda de calor que os ocultava as formas.
Não tinha muito sucesso contra as lampreias, porém. E o zumbido demoníaco daqueles insetos atrapalhava enormemente os nômades e mesmo a Charya: era visível a agonia na voz telepática da garota de vermelho e nos golpes desesperados e sem força dos contrabandistas.
Na volta do paredão do cânion, surgiu a figura do Grão-Mestre Bendante, afogueado e segurando uma arma de choque metálica: “Dova!” ele berrou. “Rápido! Liberte os ouvidos de Charya!”
A menina de azul-cobalto e olhos multicoloridos gritou para os monstros, numa voz gutural que não combinava em nada com sua aparência franzina, estranhas palavras numa língua bizarra que nenhum dos presentes, ou pelo menos nenhum dos outros usuários de uniforme-paradoxo, conseguiu compreender. Mas o que não compreendiam literalmente percebiam como algo errado, mesmo profano, uma mensagem irritada, indignada, querendo sangue e massacre.
Dova sentia que algo controlava a moça de azul e sentia que esse algo falava através da desconhecida, e pelo menos duas imagens se filtraram da algaravia alienígena e atingiram a mente de Dova: os corpos sem vida dos cinco Prodígios (Prodígios? Todos nós Prodígios, cinco Prodígios? pensou Dova atordoada), incluindo a própria menina de azul, largados pelo chão do desfiladeiro; e a morte sem sentido do primeiro mensageiro, a Coisa que Rastejava pelo Ermo.
“Não, Grão-Mestre...! Não é Charya que eu tenho que libertar!” A Prodígio Branco saiu desferindo golpes de báculo contra os camaleões-do-meio-dia que a cercavam, e saltando mais de três metros para cima e para frente assim que conseguiu algum espaço. Caiu em meio a um enxame de lampreias, mas os ataques viciosos das criaturinhas pareciam não a incomodar nem causar dor; e ela estendeu a mão direita sobre a desconhecida de uniforme azul.
Ocupada com os golpes ainda imprecisos de Charya, a moça de azul não conseguiu se desviar do mero toque de Dova. Dois dedos estendidos num gesto elaborado – Azif, do outro lado do campo de batalha, conseguiu enxergar a manobra e se surpreendeu com a semelhança do gesto com uma bênção ritual específica dos sacerdotes da Terra Castanha – como um piparote, atingiram o rosto da menina controlada, perto dos olhos furiosos.
Foi como se a própria aurora boreal que assolava a cada dia o Ermo da Condenação saltasse dos olhos de Berya (Berya, pensou Azif, agora a reconheço, é Berya, filha do Alto Sacerdote) e rodopiasse num turbilhão agressivo entre as três Prodígios. Espantados com esse revertério, os enxames de lampreias alçaram voo e abandonaram o cânion, deixando só aquela nova e desconhecida ameaça – o Segundo Mensageiro – e os camaleões para enfrentar os Prodígios e seus aliados contrabandistas.
Nervoso mas traindo um sorriso de quem esperava aquele desenrolar das coisas, o Grão-Mestre Bendante pensou consigo enquanto disparava sua arma de choque contra um camaleão mais próximo, Então, finalmente, os Alienígenas voltaram. Depois de tanto tempo, a humanidade vai ter sua vingança. Não sabem em que armadilha se meteram...
imagens e ilustrações, fontes e autores
ResponderExcluir1
Camilla d'Errico, Maleficent
http://www.camilladerrico.com/
2
Arte de Zdzislaw A Beksinski
http://waycoolpics.blogspot.com/2008/02/art-of-zdzislaw-beksinski.html
3
Craig J. Spearing, Another Shoggoth
http://www.metafilter.com/97417/HP-Lovecraft-Creature-Lab
Faça Story-lines em desenhos esboço.
ResponderExcluirPara ter uma idéia da cena.
isto pemitirá à você descrever a cena.
Com mais detalhes e mudar de algo romântico, com detalhes.Envolvendo mais ainda o leitor.
Para algo com intriga e ação e velocidade.
E momentos de grande definição como é a vida.
Você é um escritor nato.
Está praticamente no caminho certo.
Só falta começar a se aproximar mais de algo palpável.
É uma ótima cena. Porém vejo muita velocidade e muita ação...
Não deu tempo para se ambientar totalmente.
Ainda que os desenhos dêem a dica.
Porque não tem o toque de precisão.
Como as cenas de alguns contos de Alan Moore.
Para um conto caótico está perfeito.
Porém tem um potencial de se tornar algo maior.
Você pode fazer dinheiro com isto.
Escrevendo tanto em inglês quanto em português.
Você pode lançar obras bilíngües e ter algum sucesso monetário com isto!!! ^^
Não é porque seja uma arte apenas. E sim porque a arte se torna parte de uma indústria e isto aí sim se espalha.
Excelente.
Acho que a própria ideia é não dar tempo pra se ambientar, dar a ideia que é uma velocidade tamanha que se torna difícil pra se perceber, detalhes demais e deixaria de se rum mini-conto de tanta descrições.
ResponderExcluirO ritmo, apesar de serem mídias non-sense me lembram bastante os animes Dead Leaves e FLCL. Pela velocidade da ação, os dialogos internos, a ligação entre os personagens e a construção da história e tals...
Dá muita curiosidade pra mais informações sobre os paradoxos e quando vai ter um ataque final a la super sentai hahaha
E concordo com Marcel, eu pagaria pra ler uma novel assim. Pra mim a única coisa que falta nos mini-contos é você publicar mais rápido eles, tá muito bom e ah, trabalhar mais o mistério dos paradoxos, mas tenho certeza que isso já tá nos planos pra algum conto futuro : )
Valeu pelos comentários e,
ResponderExcluirOmega, o engraçado é que não vi nenhum desses dois animes, na verdade não estou reconhecendo a sigla FLCL. De anime mesmo eu só vi Suzumiya, School Rumble (só o começo), Samurai Champloo... e não é anime, mas vários sentai e kamen riders dos mais recentes -- sou fã de Den-O.
Óbvio que não existem só essas influências, também me inspiro em Duna, Torre Negra, Cable e X-Men 2099, pra citar os principais.
Sim, existe muito mais coisa sobre os uniformes-paradoxos do que já apareceu até agora. Um pouco mais sobre eles aparece no episódio seguinte, que é centrado na Prodígio Azul, Berya. Por sinal esta Berya é fisicamente baseada numa pessoa real, Beatriz, que se acha no twitter como @byaflycts .
Como é uma série, eu planejo juntar tudo isso num livro, mesmo, a "primeira temporada" formaria um romance.
http://sagadosprodigios.blogspot.com/2011/09/nos-somos-cinco.html
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