domingo, 24 de abril de 2011

ALÉM DA TORRE VERMELHA

Arthur Ferreira Jr.'. acha que o Episódio Dezenove fala por si mesmo.
E com ele a SAGA DOS PRODÍGIOS chega ao final do segundo arco de histórias: REVOLUÇÃO








PRODÍGIOS! VAMOS RESOLVER ISSO E IR PRA CASA! O pulso telepático de Charya se fez ouvir na mente de Azif, Berya, Dova e Euro, e a Prodígio Vermelha ergueu a katana dupla e começou a girá-la por sobre a cabeça. A nanoconsciência com a forma do Alto Sacerdote Mordekai arregalou os olhos ao perceber que estava tudo perdido. Azif notou que a outra nanoconsciência – a que assumira a forma da Matriarca Kashramael – casualmente encostou-se na parede do salão, braços cruzados e sorridente, como se para assistir um espetáculo.

        Azif... a voz de Charya quase dominava a mente do Prodígio Negro com tamanha força e presença, e o rapaz sentia o amor que ambos sentiam um pelo outro, cada um à sua maneira. Agora, como da última vez! Me lance pelo ar!

        A segurança naquela voz telepática deixava claro que ali eles podiam ir além de seus limites – e Azif limitou-se a brandir sua cimitarra negra na direção de Charya, contrariando toda a fadiga que o exauria. A katana dupla girou mais forte e a Prodígio Vermelha sumiu naquele ponto num estrondo, ressurgindo por trás do Alienígena que havia reassumido parte de sua forma original e atacava Dova, estrangulando-a com seus tentáculos. Depois do teleporte, as lâminas pareciam cortar o próprio espaço. Como um ciclone, Charya girou a espada de dois gumes por sobre a matéria ectoplásmica do monstro, fazendo jorrar parte de sua substância viscosa e algo que parecia sangue sobre Dova, Euro e o falso sacerdote Mordekai. Os tentáculos afrouxaram o aperto e Dova se viu livre de novo, respirando fundo e recobrando a sanidade que havia sumido em parte durante toda aquela aventura.

        A menina soube então que era a fúria de Charya presa na forma da katana que havia empunhado aquele tempo todo. Eu sou uma catalisadora, lembrou Dova, e repetiu mentalmente a litania que seu avô Nehru havia lhe ensinado. Eu me conecto. Eu aprimoro. Eu absorvo. Eu curo.



        Euro olhou para Charya enquanto manietava o falso Mordekai, que resistia bravamente, e lhe ocorreu, letheana transcendente, ela poderia simplesmente escolher acordar agora e encerrar tudo mas prefere nos unir na batalha – é como um simples treinamento, ou essa coisa com o rosto do Alto Sacerdote é responsável por este falso mundo e ela está disputando pelo controle mesmo agora? Este pensamento fez Euro redobrar os esforços em manter Mordekai preso. Tentava lhe aplicar um mata-leão mas o duplo saía-se muito bem resistindo a suas manobras.

        Berya fitou fixamente a figura com a forma de sua mãe, que encostada na parede esperava o desfecho da batalha. “Você é a deusa? A Mãe-Monstro?”

        “Devia dar atenção aos seus amigos,” o duplo respondeu com um tom de sarcasmo. “Mas pode-se dizer que sim, sou a Mãe-Monstro, apesar de ser uma entre muitas. Meu nascimento não foi finito, foi infinito, assim diz o Manifesto da Mãe-Monstro. Eu sou uma imagem... e fui programada por sua mãe.”

        “Então o outro...”

        “Inferior, programado por seu pai para suprimir sua rebeldia. E permaneceu com você, dentro do corpo e da mente, mesmo quando foi possuída por aquela criatura. E como seu pai, ele serve àquela coisa. Ia deixar vocês presos aqui para sempre... e Charya em coma.”

        “A criatura está aqui mesmo? Como eu e você?”

        “É só uma projeção da vontade desses novos deuses usurpadores, e está se desfazendo agora graças a Charya. Vai lhe fazer bem se voltar à antiga Fé, minha filha. Pense como uma proteção extra.” E sorriu insinuante, exatamente como a Mãe-Monstro sorria nas antigas esculturas.

        Azif conseguia ouvir este diálogo enquanto corria na direção do falso Mordekai, pensando, talvez Charya tenha unido a mente de todos nós. Se for assim... devemos destruir juntos o verdadeiro inimigo. A cimitarra negra penetrou fundo o corpo do duplo, que não conseguia se mexer direito enquanto lutava contra Euro.

        Dova percebeu que o resquício do Alienígena que havia infiltrado a mente de Charya na batalha do labirinto-penhasco foi se desfazendo como um camaleão-do-meio-dia atingido por Euro. Àquela curta distância, a Prodígio Branca conseguia ouvir a vibração da espada dupla de Charya que havia cortado Alienígena e o próprio espaço ilusório ao redor dele – um perfeito golpe mental. Vendo Azif brandir a cimitarra contra o Alto Sacerdote, Dova notou que o cansaço no rosto de seu amigo se desfazia ao chegar tão perto dela. Sou mesmo uma catalisadora, meu avô estava certo. Com um salto a garota se pôs do lado de Azif e Euro, sua mão esquerda esticada para tocar o ombro do Prodígio Amarelo.

        Berya voltou-se para a batalha e com um gesto duplo, as duas espadas curtas voltaram às suas mãos. É incrível, pensou a Prodígio Azul, todos nós cinco somos paranormais, não só a telepata. E a menina de branco catalisa e aumenta os poderes de todos nós, e mais ainda porque todos usamos uniforme-paradoxo. Deu alguns passos na direção do centro do salão. Percebo com toda clareza meu potencial agora... não apenas farejar trufas, mas dominar o fogo-fátuo do Ermo e a própria energia que define essa maldita duplicata de meu pai... Berya franziu a testa e segurou com mais força as bainhas de suas armadoxos. Eu leio os padrões nesse duplo e leio até como ele define o que estou fazendo com ele: eletrocinese.
        Enquanto eu provoco falhas na estrutura dessa... nanoconsciência... eu roubo os dados que a compõem... antes que Euro a destrua completamente... A Prodígio Azul cruzava as lâminas das espadas como se as amolasse ou cobiçasse um prato que ia ser posto na mesa.

        Euro sentiu um leve calor percorrer seu corpo e sua confiança ser redobrada. Vamos, Euro! A telepatia de Charya soou em sua mente. Deixe que Dova o faça ultrapassar todos os limites... o meio-neander sentiu que a força de suas mãos não era apenas força física mas uma imposição da mente sobre a matéria. Telecinésia tátil, pensou Berya enquanto absorvia o conhecimento do falso Mordekai.

        A azul pouco a pouco fragmentava o impostor em pedacinhos. O negro vibrava sua lâmina dentro dele, despedaçando o espaço que o definia. A branca fazia sua parte retirando as limitações do negro e do amarelo e aprimorando os poderes de todos. A vermelha emitiu mais um comando telepático, dando uma confiança ainda maior ao amarelo e os dois, num só movimento sincronizado, fizeram a cabeça do falso sacerdote rolar com um golpe decapitador e seu corpo explodir por dentro com telecinese.

        A cabeça quicou e foi rodando pelo chão até os pés da Kashramael-simulada. E antes que Berya ou os outros pudessem recobrar o foco e fazer alguma coisa, ela se abaixou, segurou a cabeça degolada e disse antes de desaparecer, “Baibai, filhotes.”

        A cena foi desvanecendo e a visão de todos os cinco foi se tornando turva – até mesmo a de Charya, que não resistiu e... acordou num colchão improvisado do novo acampamento nas cavernas dos contrabandistas.

        Anisha, a mãe adotiva de Euro e Azif, esposa do Grão-Mestre, passava um pano úmido em sua testa quando os olhos da Prodígio Vermelha se arregalaram – o que fez com que a mulher espantada gritasse por seu marido e pelos outros.

        Ao redor dela, outros quatro colchões, dois de cada lado, com os outros Prodígios despertando aos poucos. O Grão-Mestre Bendante veio correndo afobado e se postou diante deles, o sorriso aflito desenhado no rosto envelhecido:

        “É mesmo um Prodígio que estejam vivos! Uma semana desacordados e só vivendo de água e da energia reciclada pelos uniformes.”

        Dova espreguiçou-se e foi a primeira a tentar levantar, notando que era verdade, não haviam lhe tirado o uniforme-paradoxo. E ele – bem como os outros quatro – havia 'voltado ao normal', sem desenhos estranhos ou decotes insinuantes. Passou os dedos no ombro e comentou, ressabiada, enquanto os outros esfregavam os olhos, “A gente nunca tira essas roupas?”

        “Hum, precisamos mesmo conversar. E todos nós, não só você e eu, Dova.” O velho Bendante passou os olhos em sua tropa e pediu, “Antes que façam qualquer pergunta, vou lhes contar uma história. Não quero ser interrompido enquanto não a terminar... pode ser?”







LEIA O EPISÓDIO ANTERIOR
BAIXE A COMPILAÇÃO DOS PRIMEIROS ARCO DE HISTÓRIAS:
E

3 comentários:

  1. EM BREVE: O terceiro arco de histórias, TEOGONIA

    ILUSTRAÇÕES E IMAGENS, AUTORES E FONTES

    1 e 3
    Mario Wibisono
    http://www.dumage.com/impressive-digital-girls/

    2
    Camilla d'Errico, Volpe
    http://www.camilladerrico.com/paintings/

    4
    Alexandre Wagner, Música 2
    http://fama.zupi.com.br/alexandrewagner

    5
    Ilustração de Binho Martins
    http://www.zupi.com.br/index.php/site_zupi/view/binho_martins/

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  2. REVOLUÇÃO, a segunda fase da SAGA DOS PRODÍGIOS, recebeu uma compilação em pdf versão 1.5.:

    http://www.4shared.com/document/WWTcTeVc/A_SAGA_DOS_PRODGIOS_10-19_REVO.html

    Percebi que algo que só aparecia nos comentários do blog estava faltando no PDF: as referências de certas citações no começo ou final dos episódios. Aproveitei para trocar o desenho repetido por cinco esboços dos próprios Prodígios.

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  3. http://sagadosprodigios.blogspot.com/2011/09/alem-da-torre-vermelha.html

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