domingo, 7 de novembro de 2010

VIRGO

De Arthur Ferreira Jr.'.
Dedicado a Mestre Montalvan e a Yeats



Veio o sono, e transpus os obstáculos largados no caminho do meu sonhar, com a maior facilidade.  Desfiz a existência daquelas pragas que começavam a acumular-se pela terra branca, informe e enevoada que cercava os meus domínios.  Eram ervas daninhas: como bromélias feitas de carne, cartilagem, e com um único olho dentro daquela massa gotejante, tresandando a carniça.  Sem maiores reclamações, extirpei-as, uma a uma: era meu dever.


Que importava se, na noite seguinte, devia repetir o mesmo processo?  Era o meu dever.


Naquela noite o leviatã não viria.  Ele começava a rarear suas aparições, mas quando isso acontecia, a colheita daqueles fungos diabólicos era sempre mais pesada.  Por toda a planície.  E, por isso, eu precisava estar ali, antes que a noite caísse no mundo dos despertos, antes que as presenças dos que dormem tornassem-se multidões.


Dia após dia, noite após noite, a planície parecia aumentar de tamanho.  Mais presenças, uma ou outra, era quase imperceptível. Mais presas para o leviatã, mais vítimas incautas para o envenenamento dos fungos. 


Mais desespero, mais crimes, mais loucura pela terra dos despertos.  Se eu não estivesse ali, a maré turva de sangue tomaria tudo com mais pressa e ímpeto.


O céu malva se retorcia, bem devagar.  Era um dia de rotina.


3 comentários:

  1. IMAGENS E ILUSTRAÇÕES, AUTORES E FONTES

    "Worship", de Clark Ashton Smith.

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  2. Não queria estar neste lugar...
    Perfeita a descrição, dá quase para sentir o odor fétido do local.

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  3. É a infestação com que Virgílio Mago, do conto http://insanemission.blogspot.com/2010/09/o-farol-na-escuridao.html , está tendo de lidar ... o mini-conto Virgo se passa após O Farol na Escuridão.

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