quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ELOGIO DO ALCOOLISMO

Por Jorginho Demó


Ora, hoje estou sóbrio. Logo, irrito-me. 
Porque não posso pôr uma mísera gota’rdente 
Da água estonteante em meus lábios sequiosos? 
Ficarás tonto, dizem. Ficarás inebriado. 
Creio porém que o estado de inebriação é superior à 
Lucidez que nos prende às firmes amarras da razão. 
Dê-me logo esta garrafa plena de ilusões! 

Bebo a sôfregos goles. Sinto escaldar-me a garganta. 
Suficiente contudo não é, quero e posso tomar mais 
E levo o resto da maldita noite a beber, a beber, 
Potencialmente aumentando o tamanho de meu ventre, 
Já inchado por esta gula, esta ânsia abominável. 
Logo estou bêbado. Logo estou bêbado ainda mais. 
Impulsionado pela própria turvação do vinho. 

Passam-se alguns minutos. Não agüento mais continuar. 
Peço que chamem um táxi, preciso sair daqui. 
Corro às ruas antes de ser atendido, perturbado. 
Caio na sarjeta, percebo os momentos finais. 
Abstraio-me das centelhas a piscar antes que venha 
O coma alcoólico, o esperado torpor, a sublimação. 
Me deixem morrer. Não me socorram. Adeus.




Dedicado a uma figura que passou em minha vida, em 12/07/2004 
Jorginho Demó é um heterônimo de Arthur Ferreira Jr.'.

3 comentários:

  1. IMAGENS E ILUSTRAÇÕES, AUTORES E FONTES

    Imagem de campanha da ABRAMET
    http://www.zupi.com.br/index.php/site_zupi/view/voce_pode_beber_e_dirigir_ou_beber_e/

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  2. Essa parte "Dê-me logo esta garrafa plena de ilusões!" Diz basicamente tudo o que eu penso sobre bebidas. Sou a favor do livre pensar, do livre agir.

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  3. Acho que eu só fiquei bêbado três vezes na minhas três décadas de vida.

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