Título Original: The Flower-Devil
Tradução: Arthur Ferreira Jr.'.
Numa pia de alabastro, no alto de um pilar de serpentina, a coisa existe desde um templo primevo, no jardim dos reis que governam um reino equatorial no planeta Saturno. Com folhagem negra, fina e intricada como a teia de alguma enorme aranha; com pétalas de um rosa lívido, e púrpuras como o púrpura de carne putrefata; e um caule ascendente, como o pulso peludo e escuro de um bulbo tão antigo, tão incrustrado com o crescimento dos séculos, que lembra uma urna de pedra, a flor monstruosa mantém domínio sobre todo o jardim. Nesta flor, desde os anos das mais antigas lendas, um demônio maligno habita -- um demônio cujo nome e natividade são conhecidos pelos magistas superiores, e pelos misteriarcas do reino, embora uma icógnita a todos os outros. Sobre as flores quase-animadas, as orquídeas ofídeas que se enroscam e ferroam, os lírios quirópteros que à noite abrem suas pétalas arcadas como costelas, e com minúsculos dentes amarelados, banqueteiam-se com os corpos das libélulas adormecidas; os cactos carnívoros que bocejam com lábios esverdeados, abaixo de suas barbas de espinhos amarelados e venenosos; as plantas que palpitam como corações, os brotos que suspiram com um hálito de perfume peçonhento -- acima de todas essas plantas, a Flor-Diabo reina suprema, em sua imortalidade maligna, e inteligência maldosa e perversa -- incitando-as a uma estranha maleficência, a um capricho fantástico, até mesmo a atos de rebelião contra os jardineiros, que continuam com suas tarefas com cautela e tremor, já que mais de um deles já fora mordido, sendo mesmo levado à morte, por alguma flor raivosa e envenenada. Em alguns pontos, o jardim tornou-se selvagem, devido à falta de cuidados dos jardineiros temerosos, e tornou-se um emaranhado monstruoso de rastejantes serpentinos, e de plantas com cabeças de hidra, convoluto e retorcido em si mesmo de tanto ódio letal ou amor venenoso, e tão horrível como uma multidão de víboras e pítons ocupados em lutar.
E, como fizeram seus inúmeros ancestrais, antes dele, o rei não ousa destruir a Flor, por medo de que o diabo, expulso de seu refúgio, possa buscar uma nova residência, e entrar no cérebro ou corpo de um dos súditos do rei -- ou mesmo no coração de sua tão bela, gentil e amada rainha!
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IMAGENS E ILUSTRAÇÕES, FONTES E AUTORES
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Pode parecer irônico, mas não há pintura ou escultura de Clark Ashton Smith ilustrando o próprio texto dele. Para quem não conhece, Smith é um poeta, pintor, escultor e escritor de histórias de fantasia científica e horror, que formava o âmago do Círculo Lovecraftiano, junto com o próprio H. P. e Robert E. Howard (sim, o criador de Conan). A cada dia fico mais encantado com sua obra. Esta prosa-poética é diretamente relacionada a um conto chamado "The Demon in the Flower", escrito posteriormente.
Como comentei mais cedo em outra parte, parece que estou agora em excelente e maldita companhia, já que Bauldelaire também traduziu o nosso virtuose apresentado aqui.
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Série Fotográfica Ilots Temporels
http://www.thomasjorion.com/
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É incrível, mas salvei isto outro dia apenas como "abóbora". É lamentável, achei por acaso numa outra busca. Se alguém souber a origem, por favor me avise aqui.
http://dominiopublicano.blogspot.com/2011/09/flor-demonio.html
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