Tradução de Arthur Ferreira Jr.'.
Procurando aquela que perdi, cheguei a tempo às costas do Lethe, sob a abóbada de um céu imenso, vazio e ébano, a partir do qual todas as estrelas sumiam, uma por uma. Vinda não sei de onde, uma luz pálida e fugidia, como a da lua minguante, ou a fosforescência fantasmagórica de um sol morto, caiu tênue e sem lustre sobre a torrente obsidiana, e sobre os prados negros e sem flor alguma. Sob esta luz, enxerguei muitas almas errantes, de homens e mulheres, que vinham, hesitantes ou sôfregas, beber das lentas águas que nunca murmuram. Porém entre todas essas, nenhuma partia sôfrega, e muitos que permaneciam contemplavam, com olhos que não enxergavam, o movimento calmo e sem ondas da torrente. À distância, na forma graciosa e alta como um lírio, e no rosto imóvel e altivo de uma mulher que permanecia separada do resto, enxerguei aquela a quem buscava; e, correndo para estar ao seu lado, com um coração onde antigas memórias cantavam como um ninho de rouxinóis, fui ávido em tomar da sua mão. Porém nos olhos pálidos e imutáveis, e nos lábios imóveis e descorados, que achegaram-se aos meus, não enxerguei luz alguma de memórias, nenhum tremor de reconhecimento. E sabendo agora que ela havia esquecido, fugi desesperado, e encontrei o rio diante de mim, de súbito senti minha antiga sede por suas águas, uma sede que um dia pensei satisfazer em muitas e diversas fontes, mas em vão. Abaixando-me apressado, bebi, e levantando mais uma vez, percebi que a luz havia morrido ou desaparecido, e que toda a terra era como a terra de um sono sem sonhos, onde eu não conseguia mais distinguir os rostos de meus companheiros. Nem mais estava apto a lembrar jamais por quê eu desejei beber das águas do esquecimento.
IMAGENS E ILUSTRAÇÕES, AUTORES E FONTES
ResponderExcluir1
"Basilisk", de Clark Ashton Smith
2
Retrato de Clark Ashton Smith, recuperado
Versão original de 1912 em
http://www.oac.cdlib.org/ark:/13030/tf2d5nb2d6/
http://dominiopublicano.blogspot.com/2011/09/um-sonho-no-lethe.html
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