segunda-feira, 29 de novembro de 2010
PELA ESTRADA ADENTRO
Tem mais de uma hora de relógio que eu tou perdido aqui nessas ruas estreitas, de calçamento antigo, paralelepípedos que dão medo de pisar. Ninguém sabe me dar informação direito, e tô já com o cu no ponto de medo que me assaltem... quinze para a meia-noite ...
De repente passa uma menina na rua. Menina, mesmo. Deve ter seus quinze anos, quem sabe. Usa uma capa de chuva de um vermelho desbotado... mas não tá chovendo. É estranho. Parece maluquice. Nem sei porquê tou olhando tanto pra essa menininha.
De repente ela pára o passo, se volta pra mim, estende uma mão magra, mas um pouco bonita (nossa, um esmalte brilhante de tão rubro) e pede:
"Moço, tem um trocado?"
"Não, menina, se eu tivesse algum dinheiro que fosse, já teria tomado um táxi. Você tá com fome, é isso?"
A menina chega mais perto e puxa o capuz vermelho. A rua estava meio escura, mas a lua agora saiu de trás das nuvens ... e agora eu noto ... não eram unhas esmaltadas, eram garras sujas de sangue, naquela mão meio peluda, como uma mulher com excesso de hormônios ...
Ela sorri para mim, uma boca carnuda, dentes afiados, olhos grandes, bem grandes, amarelados, tudo isso emoldurado num rostinho angelical:
"Claro que eu tô com fome!..."
domingo, 28 de novembro de 2010
A BUSCA PELA MORTALIDADE
KRONOS PAROU NA BEIRA DO ACOSTAMENTO e entrou no mato.
Ele era Kronos há tanto tempo que não conseguia lembrar do Mistério que o definia; deixara de ser uma sombra errante há tantas eras, que não lembrava mais o nome da casca mortal que o abrigava. A suprema ironia era a sua prisão.
Na beira da estrada, o carro começou a pingar combustível na pista.
Antes era um ser eterno, porque não era definido, uma entidade que brincava de aninhar-se num corpo humano por alguns anos, no máximo alguns séculos ... dando aí aos mortais a impressão da imortalidade ... não era mais o caso de Kronos.
Outros carros passaram ao lado daquele que vazava, cada vez mais velozes.
De todos eles, Kronos era o que merecia o nome de maldito. Enquanto todos os Vultos Vulpinos agiam como cucos, tomando o que queriam e batendo suas asas escuras para o nada informe quando se entediavam, Kronos estava preso ao seu corpo. Há quanto tempo, era difícil precisar: talvez logo depois da extinção dos Neandertais.
A gasolina misturada com álcool se espalhava pela rodovia mal-iluminada, quase uma infestação rápida.
E agora Kronos precisava desesperadamente dormir. Queria um fim para aquilo, um fim para as perspectivas limitadas, para as olheiras cada vez mais escuras. Ele queria uma luz no fim do túnel, um túnel de luz que o levasse para longe da vida mortal, mesmo que isso significasse a obliteração total, e ele nunca pudesse voltar de verdade ao reino de onde saíra há milênios.
Um carro passou derrapando na estrada.
Depois de ter acendido a centelha do vampirismo em mais uma mulher, em mais uma de suas vítimas, Kronos precisava se enterrar em meio à lama no meio do mato, tentar dormir algum tempo num lugar imundo o ajudava a ter a ilusão de que estava morto.
O motorista, extremamente hábil, conseguiu evitar a colisão com o carro estacionado no acostamento e seguiu viagem.
Não sabia quanto tempo ia passar naquele lodo quase pantanoso, a uns vinte metros da estrada. Uma chuva recente quase alagou o lugar, era tudo que Kronos queria, a companhia da água e dos vermes famintos. Suas roupas de grife afrontavam a rusticidade do local, e seus sapatos caros estavam encharcados; ele os jogou longe.
Um carro veio vindo a baixa velocidade para os padrões de uma auto-estrada, o motorista fumava distraído, com o braço para fora.
"Nemesyn, sua puta!" gritou Kronos enquanto cavava um buraco no lamaçal. "Se não fosse por você, sua louca, eu não estaria preso a esse mundo podre!" Um cervo levantou a cabeça a uns cem metros de distância, assustado com os berros de alguém que parecia humano, mas não era.
Ao passar próximo do carro parado no acostamento, de onde há alguns minutos saíra um homem bem-vestido, que não passava da roupa de um deus-vampiro desesperado, ou antes sua prisão de tempo e carne, o motorista descuidado terminou seu cigarro e jogou a ponta ainda acesa na estrada.
"Esse mundo POOOOOODRE!!!"
Um grito no mato foi abafado pelo ruído brutal de uma explosão, que incendiou o trecho da rodovia e atingiu os matagais próximos, queimando a carne imortal de um vampiro em sua BUSCA PELA MORTALIDADE ...
sábado, 20 de novembro de 2010
Lua Coroada
Raio de luz se enche de poeira
Dançando no ar
Senhora da caça se arrepende, amarga
Das vidas na cidade negra, tortuosa,
Morrendo no ar
Sujeira, nuvem de fumaça sobe da prisão.
Um dia a senhora da caça correrá
Viajando no ar
Fonte da vida em sua mente a guiará.
A lua vai acordar dentro de um raio de luz
Pairando no ar
Faceira, o sorriso nos lábios e no coração.
Dançando no ar
Senhora da caça se arrepende, amarga
Das vidas na cidade negra, tortuosa,
Morrendo no ar
Sujeira, nuvem de fumaça sobe da prisão.
Um dia a senhora da caça correrá
Viajando no ar
Fonte da vida em sua mente a guiará.
A lua vai acordar dentro de um raio de luz
Pairando no ar
Faceira, o sorriso nos lábios e no coração.
sábado, 13 de novembro de 2010
ERA UMA VEZ
De Arthur Ferreira Jr.'.
Com meus agradecimentos devotos a Maria do Carmo Zanini, Stanley Kubrick, Malu Fontes e LADY
ERA UMA TERRA DESOLADA: e elas sentavam-se à beira de uma estrada que ainda não existia.
Uma tinha uma cara de coruja amassada; às vezes, um jacaré enrugado. A outra era, talvez, menos feia, com um sorriso amargo e um nariz comprido, vermelhão quando fazia frio, azulado quando fazia calor.
Mas as duas velhas não sabiam muito bem o que era calor, nem frio. Não sei se estavam acima disso de choques térmicos e outras invenções do dia moderno, mas naquele ermo primal, um sertão ainda não devastado pela seca, mostrando as cicatrizes do degelo, eram como antigas rainhas, basiliscos antropoides pouco afetados pelas vicissitudes do mundo.
Nas cavernas próximas, rabiscos rupestres ilustravam a sabedoria e o perigo representado por aquelas duas velhas. As ancianas haviam subido a encosta com uma dificuldade que não era simulada nem real, e agora, naquele agora de há milênios, sentavam-se perto de uma encruzilhada que ainda não existia.
A gente ruiva, de sobrancelhas largas e bastas e olhar profundo, que vivia ali perto, aprendera a temer as duas figuras. Mas uma criança desse povo conhecedor, que um dia os magos do dia moderno chamarão de Neanderthal, sentia outra coisa que não medo: a curiosidade.
Sua gente estava lentamente sendo dizimada pelas hordas do Povo Invasor, e o menino ruivo subia a encosta em busca das velhas. Seu pai lhe havia advertido contra: a primeira velha era quase um bicho, que assombrava pesadelos e roubava almas das crianças; a segunda talvez fosse um pouco mais amigável, mas cruzava os céus num estranho cilindro de madeira de sândalo, e isso não podia ser natural, quase coisa do Povo Invasor.
Mas o pai, de nome Yahppeto, pouco podia dizer, mesmo tendo se juntado com uma estranha, Clymmen, da tribo que ensinava a gente ruiva a construir veículos que deslizavam sobre a água, para fugir do Povo Invasor. A mãe de Eppimeth, no silêncio da noite, o mandou falar com as velhas que iam se sentar perto da encruzilhada que ainda não existia.
A encruzilhada ainda não existia, mas a criança podia quase enxergar o movimento pelo ar: era uma zona de espíritos que dançam, e as serpentes que zombam da humanidade escorregavam travessas pelo éter. O pôr-do-sol se aproximava, e Eppimeth enxergou as duas bruxas a confabular na beira da estrada que ainda não existia.
Levantou-se Kokka, devoradora de crianças e sonhos, e apontou o dedo magro na direção de Epimeth: "Filho de Clymmen, irmão de Athhal, Mennoe e do Lucifuge, que queres aqui neste lugar bendito?"
Sentada ficou Yagga, mãe dos diabretes e dos coriscos do céu, e continuou calada. Ao longe, um estranho animal pastava, um avestruz gigante de bico cheio de dentes, relíquia das eras ainda mais primevas.
Epimeth por um momento enxergou as duas velhas como se fossem uma grande serpente, daquelas que engolem mamutes vivos, e uma aranha, daquelas que parecem caminhar no ar ao andarilhar teias invisíveis.
"Quero acabar com a guerra," disse o menino. Os olhos da criança traduziam um sofrimento estóico que iam além de seus anos.
"Apois!" murmurou a segunda velha, que ruminava pensamentos incertos. "Menino cego. A guerra é vida. Se não fôsseis enganados pela guerra, seriam enganados pelo mato que cercaria tuas vilas tão pequenas."
"Mas," continuou a primeira velha, "ele foi direto, não tentou nos enganar com ilusões que seu medo e receio podiam suscitar." Virou a cabeça torta na direção da velha sentada, que assentiu, meio contrariada. "É assim mesmo, menino?" inquiriu a velha Yagga, "você quer uma saída para a guerra?"
"Sim," disse a criança ruiva de olhos arregalados.
"Eis tua saída," gritou a velha Kokka, e de repente o menino enxergou uma moça que vinha sozinha pelo caminho que ainda naõ existia. Era uma bela moça, de compleição morena, cabelos negros e ondulados, olhos brilhantes como frutos úmidos, e pertencia ao Povo Invasor; mas ele não conseguiu notar a diferença, naquele instante lhe era ruiva como uma de sua espécie.
Um vislumbre do futuro, a terra castigada por uma raça de abutres e carniceiros vestindo a pele de homens, fumegando de veneno e calor causticante, causando um degelo ainda maior que aquele visto há pouco, quis se meter pelos olhos do rapaz; mas escolheu enxergar depois. Ali, na sua frente, só havia o desejo por Pantadora.
As velhas haviam sumido como se nunca estivessem ali, e era verdade, nunca estiveram ali. Como antes, só haviam duas figuras na beira da estrada a se encontrar: Epimeth e Pantadora, e daquele amor proibido nasceu uma raça que apesar de sua união entre tão diferentes, ainda gera cisão, guerra e morte; e daquele amor sincero e incompreendido por seus próprios filhos, nasceram todos os males do mundo.
As duas velhas que ainda caminham pelas estradas e encruzilhadas que já existem, rindo-se da tolice de seus netos humanos, que ainda hoje, faça sol ou faça chuva, faça guerra ou faça paz, as perseguem em memórias, sonhos e pesadelos.
Com meus agradecimentos devotos a Maria do Carmo Zanini, Stanley Kubrick, Malu Fontes e LADY
ERA UMA TERRA DESOLADA: e elas sentavam-se à beira de uma estrada que ainda não existia.
Uma tinha uma cara de coruja amassada; às vezes, um jacaré enrugado. A outra era, talvez, menos feia, com um sorriso amargo e um nariz comprido, vermelhão quando fazia frio, azulado quando fazia calor.
Mas as duas velhas não sabiam muito bem o que era calor, nem frio. Não sei se estavam acima disso de choques térmicos e outras invenções do dia moderno, mas naquele ermo primal, um sertão ainda não devastado pela seca, mostrando as cicatrizes do degelo, eram como antigas rainhas, basiliscos antropoides pouco afetados pelas vicissitudes do mundo.
Nas cavernas próximas, rabiscos rupestres ilustravam a sabedoria e o perigo representado por aquelas duas velhas. As ancianas haviam subido a encosta com uma dificuldade que não era simulada nem real, e agora, naquele agora de há milênios, sentavam-se perto de uma encruzilhada que ainda não existia.
A gente ruiva, de sobrancelhas largas e bastas e olhar profundo, que vivia ali perto, aprendera a temer as duas figuras. Mas uma criança desse povo conhecedor, que um dia os magos do dia moderno chamarão de Neanderthal, sentia outra coisa que não medo: a curiosidade.
Sua gente estava lentamente sendo dizimada pelas hordas do Povo Invasor, e o menino ruivo subia a encosta em busca das velhas. Seu pai lhe havia advertido contra: a primeira velha era quase um bicho, que assombrava pesadelos e roubava almas das crianças; a segunda talvez fosse um pouco mais amigável, mas cruzava os céus num estranho cilindro de madeira de sândalo, e isso não podia ser natural, quase coisa do Povo Invasor.
Mas o pai, de nome Yahppeto, pouco podia dizer, mesmo tendo se juntado com uma estranha, Clymmen, da tribo que ensinava a gente ruiva a construir veículos que deslizavam sobre a água, para fugir do Povo Invasor. A mãe de Eppimeth, no silêncio da noite, o mandou falar com as velhas que iam se sentar perto da encruzilhada que ainda não existia.
A encruzilhada ainda não existia, mas a criança podia quase enxergar o movimento pelo ar: era uma zona de espíritos que dançam, e as serpentes que zombam da humanidade escorregavam travessas pelo éter. O pôr-do-sol se aproximava, e Eppimeth enxergou as duas bruxas a confabular na beira da estrada que ainda não existia.
Levantou-se Kokka, devoradora de crianças e sonhos, e apontou o dedo magro na direção de Epimeth: "Filho de Clymmen, irmão de Athhal, Mennoe e do Lucifuge, que queres aqui neste lugar bendito?"
Sentada ficou Yagga, mãe dos diabretes e dos coriscos do céu, e continuou calada. Ao longe, um estranho animal pastava, um avestruz gigante de bico cheio de dentes, relíquia das eras ainda mais primevas.
Epimeth por um momento enxergou as duas velhas como se fossem uma grande serpente, daquelas que engolem mamutes vivos, e uma aranha, daquelas que parecem caminhar no ar ao andarilhar teias invisíveis.
"Quero acabar com a guerra," disse o menino. Os olhos da criança traduziam um sofrimento estóico que iam além de seus anos.
"Apois!" murmurou a segunda velha, que ruminava pensamentos incertos. "Menino cego. A guerra é vida. Se não fôsseis enganados pela guerra, seriam enganados pelo mato que cercaria tuas vilas tão pequenas."
"Mas," continuou a primeira velha, "ele foi direto, não tentou nos enganar com ilusões que seu medo e receio podiam suscitar." Virou a cabeça torta na direção da velha sentada, que assentiu, meio contrariada. "É assim mesmo, menino?" inquiriu a velha Yagga, "você quer uma saída para a guerra?"
"Sim," disse a criança ruiva de olhos arregalados.
"Eis tua saída," gritou a velha Kokka, e de repente o menino enxergou uma moça que vinha sozinha pelo caminho que ainda naõ existia. Era uma bela moça, de compleição morena, cabelos negros e ondulados, olhos brilhantes como frutos úmidos, e pertencia ao Povo Invasor; mas ele não conseguiu notar a diferença, naquele instante lhe era ruiva como uma de sua espécie.
Um vislumbre do futuro, a terra castigada por uma raça de abutres e carniceiros vestindo a pele de homens, fumegando de veneno e calor causticante, causando um degelo ainda maior que aquele visto há pouco, quis se meter pelos olhos do rapaz; mas escolheu enxergar depois. Ali, na sua frente, só havia o desejo por Pantadora.
As velhas haviam sumido como se nunca estivessem ali, e era verdade, nunca estiveram ali. Como antes, só haviam duas figuras na beira da estrada a se encontrar: Epimeth e Pantadora, e daquele amor proibido nasceu uma raça que apesar de sua união entre tão diferentes, ainda gera cisão, guerra e morte; e daquele amor sincero e incompreendido por seus próprios filhos, nasceram todos os males do mundo.
As duas velhas que ainda caminham pelas estradas e encruzilhadas que já existem, rindo-se da tolice de seus netos humanos, que ainda hoje, faça sol ou faça chuva, faça guerra ou faça paz, as perseguem em memórias, sonhos e pesadelos.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
CUCO 333
De Arthur Ferreira Jr.'.
Em honra a Neil Gaiman e escárnio e admiração a Wagner de Holanda
A mocinha no topo do viaduto duvidou de si mesma e tentou não olhar para o sol. Cuco. A cabeça quase rodava; a vertigem tentava pôr o pê pela fresta daquela porta oculta em sua mente, mas ela conseguiu trancar a porta a tempo.
Vagões e mais vagões do metrô estavam à sua vista. Parados, quentando sol como lagartos enfileirados, sem uso até que a obra de mais de dez anos se completasse. E ela também esperava que algo se completasse: era um processo lento e quase tão doloroso. Dentro de sua mente, um ninho.
No ninho, uma mente invasora. O invasor reclamava contra o sol. Reclamava contra o perigo. Ele não queria morrer antes de nascer de verdade ... antes de tomar o corpo da garota para si.
O invasor estava enganado: quando o ovo chocasse no ninho, ele e a garota seriam uma coisa só. E aí, seria irreversível. Cuco.
Às vezes o processo era lento, como no caso da garota na beira do viaduto. Às vezes uma paixão ou um ódio muito forte aceleravam tudo: o vampiro, o vulto vulpino não precisava beber seu sangue para pôr seus ovos de cuco dentro dela, desde que houvesse um mínimo da centelha e um nome. Cuco. Um nome que ressoasse forte dentro da cabeça da garota, mesmo que ela não soubesse disso: nomes como Belial. Dionísio. Samyhazah. Amanozako. Elegbara. Nyarlathotep. Laozi. Flamel. Melkor. Saci Sacura. Abraxas-Sabaoth. Malkovich. Tehuti. Loki. Flagg. Sun Wukong. Mantus. Angra Mainyu. Smith. Vucab Caqix. Yurugu.
Não importava a origem do nome, se ele soasse muito forte, o vampiro o retirava e, no lugar, no buraco deixado na mente da garota, ele faria seu ninho e colocaria sua semente. Cuco.
A garota subindo na borda do viaduto tinha mais três dias, e na terceira noite ela seria outra pessoa. Não seria mais uma pessoa, porque uma pessoa tem identidade. Cuco. A palavra pessoa vem de persona, aquela máscara teatral que ri ou chora. Cuco. A partir da terceira noite, chorar ou rir seriam a mesma coisa. Ela se alimentaria de risos, lágrimas, suor e sangue.
A garota que caía do viaduto sentiu estar livre por poucos segundos de queda. Cuco.
Devemos lamentar pelo espetacular nascimento em meio à queda livre? Não, nunca lamentemos uma bela cena, mesmo que trágica. Cuco. Mesmo que hoje uma criatura horrenda, grotesca, com os ossos esfarelados e a pele cheia de cotocos de asas, de penas afiadas, espreite as ruas de um subúrbio da cidade, a filha de Kronos, fugida há três dias do hospital para onde foi levada, antes do necrotério a receber.
Três dias. Cuco.
Em honra a Neil Gaiman e escárnio e admiração a Wagner de Holanda
A mocinha no topo do viaduto duvidou de si mesma e tentou não olhar para o sol. Cuco. A cabeça quase rodava; a vertigem tentava pôr o pê pela fresta daquela porta oculta em sua mente, mas ela conseguiu trancar a porta a tempo.
Vagões e mais vagões do metrô estavam à sua vista. Parados, quentando sol como lagartos enfileirados, sem uso até que a obra de mais de dez anos se completasse. E ela também esperava que algo se completasse: era um processo lento e quase tão doloroso. Dentro de sua mente, um ninho.
No ninho, uma mente invasora. O invasor reclamava contra o sol. Reclamava contra o perigo. Ele não queria morrer antes de nascer de verdade ... antes de tomar o corpo da garota para si.
O invasor estava enganado: quando o ovo chocasse no ninho, ele e a garota seriam uma coisa só. E aí, seria irreversível. Cuco.
Às vezes o processo era lento, como no caso da garota na beira do viaduto. Às vezes uma paixão ou um ódio muito forte aceleravam tudo: o vampiro, o vulto vulpino não precisava beber seu sangue para pôr seus ovos de cuco dentro dela, desde que houvesse um mínimo da centelha e um nome. Cuco. Um nome que ressoasse forte dentro da cabeça da garota, mesmo que ela não soubesse disso: nomes como Belial. Dionísio. Samyhazah. Amanozako. Elegbara. Nyarlathotep. Laozi. Flamel. Melkor. Saci Sacura. Abraxas-Sabaoth. Malkovich. Tehuti. Loki. Flagg. Sun Wukong. Mantus. Angra Mainyu. Smith. Vucab Caqix. Yurugu.
Não importava a origem do nome, se ele soasse muito forte, o vampiro o retirava e, no lugar, no buraco deixado na mente da garota, ele faria seu ninho e colocaria sua semente. Cuco.
A garota subindo na borda do viaduto tinha mais três dias, e na terceira noite ela seria outra pessoa. Não seria mais uma pessoa, porque uma pessoa tem identidade. Cuco. A palavra pessoa vem de persona, aquela máscara teatral que ri ou chora. Cuco. A partir da terceira noite, chorar ou rir seriam a mesma coisa. Ela se alimentaria de risos, lágrimas, suor e sangue.
A garota que caía do viaduto sentiu estar livre por poucos segundos de queda. Cuco.
Devemos lamentar pelo espetacular nascimento em meio à queda livre? Não, nunca lamentemos uma bela cena, mesmo que trágica. Cuco. Mesmo que hoje uma criatura horrenda, grotesca, com os ossos esfarelados e a pele cheia de cotocos de asas, de penas afiadas, espreite as ruas de um subúrbio da cidade, a filha de Kronos, fugida há três dias do hospital para onde foi levada, antes do necrotério a receber.
Três dias. Cuco.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
EXPOSTA
De Arthur Ferreira Jr.'.
Para a voz e a visão de Charlene
Respirava fundo e se sentia exposta.
Entre as duas placas de vidro, transparentes como uma alma que se acha sincera.
Toda uma carga de opostos se dissolvia naquele corredor estreito, onde ela despia suas máscaras e cantava Matanza, bem alto, quase destruindo a fragilidade dos vidro que a separavam das salas onde trabalhava. Aquele lugar era como o afunilado de uma ampulheta: o tempo parava, e ela gritava.
Mesmo que fosse só na mente que se revoltava do seu próprio silêncio numa das salas, e das palavras vazias na outra.
Aquele lugar era um estado de espírito, era como sua cintura, unindo quadris que se acham livres e torso que se acha escondido demais naquele momento.
Mas não adiantava ficar por ali muito tempo, e ela se movia: o corredor era fugaz e o vidro era translúcido.
Um dia aquele prédio será todo como o corredor: e seu canto e grito e gargalhada dominará o ambiente; e seremos todos mais felizes.
Para a voz e a visão de Charlene
Respirava fundo e se sentia exposta.
Entre as duas placas de vidro, transparentes como uma alma que se acha sincera.
Toda uma carga de opostos se dissolvia naquele corredor estreito, onde ela despia suas máscaras e cantava Matanza, bem alto, quase destruindo a fragilidade dos vidro que a separavam das salas onde trabalhava. Aquele lugar era como o afunilado de uma ampulheta: o tempo parava, e ela gritava.
Mesmo que fosse só na mente que se revoltava do seu próprio silêncio numa das salas, e das palavras vazias na outra.
Aquele lugar era um estado de espírito, era como sua cintura, unindo quadris que se acham livres e torso que se acha escondido demais naquele momento.
Mas não adiantava ficar por ali muito tempo, e ela se movia: o corredor era fugaz e o vidro era translúcido.
Um dia aquele prédio será todo como o corredor: e seu canto e grito e gargalhada dominará o ambiente; e seremos todos mais felizes.
Eu Era o Trauma
De Arthur Ferreira Jr.'.
Dedicado ao Caian Nevoeiro de 2025
Agradecimentos Especiais a Robert W. Chambers, Ambrose Bierce, August Derleth e H. P. Lovecraft
QUANDO EU TINHA 7 ANOS, me disseram que criança é mais vulnerável a traumas.
Eu nunca tinha ouvido falar de trauma de infância. Na verdade, eu nem sabia o que era infância direito; a palavra "infância", porque sentir a infância, eram outros quinhentos. Imagina, então, trauma. O que era trauma?
Marina tinha 13 anos e sabia o que era trauma; ela me explicou.
Fazendo isso ela deu vida àquela criatura chamado trauma: era pior que bicho-papão, e eu e todas as crianças éramos presas fáceis desse monstro.
O trauma começou a aparecer não só debaixo da cama, como nas esquinas das ruas, nos rostos dos estranhos, dos desconhecidos que minha mãe dizia que eu não devia responder.
O trauma tinha milhares de rostos. Usava milhões de máscaras diferentes: a moça drogada que sentava no meio-fio; o mendigo que parecia ter mais de dois olhos quando eu olhava para ele de lado; aquele senhor com cara de empresário, que tinha uma mancha avermelhada esquisita na manga do paletó; a camelô que sorria sozinha enquanto guardava as mercadorias; o síndico do prédio que pedia para conversar com meu pai, a sós; a babá de meu irmão mais novo; o padre.
O cachorro do vizinho tinha cheiro de carniça. O gato que tomava sol na frente da casa passou a se empoleirar no muro, cheio de cacos de vidro, e dali de cima me fitava, sem piscar. O matinho detrás de casa passou a ser frequentado por todo tipo de inseto e cobra. Aquele atalho para a escola já não era mais seguro, porque tinha uma cabeça espetada numa espécie de poste pontiagudo, no meio de uma encruzilhada sombria. As névoas vinham e voltavam nos limites da cidade.
Um menino desconhecido um dia ficou parado na frente do meu colégio, quando todo mundo já tinha ido embora e meus pais estavam atrasados. Ele usava uma máscara amarelada. Não era Dia das Bruxas, nem estava perto. Ele não quis as guloseimas que eu ofereci, nem respondeu quando eu perguntei que travessura ele estava aprontando com aquela máscara.
Na verdade, ele respondeu. Ele só demorou uns cinco minutos.
Eu já tinha esquecido da pergunta, quando ele disse:
"Não é uma máscara."
Foi então que eu soube. Ele estava ali. Era o Trauma. Não me lembro do que aconteceu depois. Acho que acordei no dia seguinte, na minha cama. Ou foi de madrugada, na cama de meus pais, tremendo de medo?
Eu não sei onde ele se esconde. Depois daquele dia eu não enxerguei mais as coisas que rastejavam e espreitavam e rondavam e empurravam meus pensamentos e minha coragem para debaixo de um tapete invisível. Eu estava curado. O menino da máscara me curou.
Mas ... espere. Como só pude me lembrar disso agora?
Não era uma máscara.
Não.
Dedicado ao Caian Nevoeiro de 2025
Agradecimentos Especiais a Robert W. Chambers, Ambrose Bierce, August Derleth e H. P. Lovecraft
QUANDO EU TINHA 7 ANOS, me disseram que criança é mais vulnerável a traumas.
Eu nunca tinha ouvido falar de trauma de infância. Na verdade, eu nem sabia o que era infância direito; a palavra "infância", porque sentir a infância, eram outros quinhentos. Imagina, então, trauma. O que era trauma?
Marina tinha 13 anos e sabia o que era trauma; ela me explicou.
Fazendo isso ela deu vida àquela criatura chamado trauma: era pior que bicho-papão, e eu e todas as crianças éramos presas fáceis desse monstro.
O trauma começou a aparecer não só debaixo da cama, como nas esquinas das ruas, nos rostos dos estranhos, dos desconhecidos que minha mãe dizia que eu não devia responder.
O trauma tinha milhares de rostos. Usava milhões de máscaras diferentes: a moça drogada que sentava no meio-fio; o mendigo que parecia ter mais de dois olhos quando eu olhava para ele de lado; aquele senhor com cara de empresário, que tinha uma mancha avermelhada esquisita na manga do paletó; a camelô que sorria sozinha enquanto guardava as mercadorias; o síndico do prédio que pedia para conversar com meu pai, a sós; a babá de meu irmão mais novo; o padre.
O cachorro do vizinho tinha cheiro de carniça. O gato que tomava sol na frente da casa passou a se empoleirar no muro, cheio de cacos de vidro, e dali de cima me fitava, sem piscar. O matinho detrás de casa passou a ser frequentado por todo tipo de inseto e cobra. Aquele atalho para a escola já não era mais seguro, porque tinha uma cabeça espetada numa espécie de poste pontiagudo, no meio de uma encruzilhada sombria. As névoas vinham e voltavam nos limites da cidade.
Um menino desconhecido um dia ficou parado na frente do meu colégio, quando todo mundo já tinha ido embora e meus pais estavam atrasados. Ele usava uma máscara amarelada. Não era Dia das Bruxas, nem estava perto. Ele não quis as guloseimas que eu ofereci, nem respondeu quando eu perguntei que travessura ele estava aprontando com aquela máscara.
Na verdade, ele respondeu. Ele só demorou uns cinco minutos.
Eu já tinha esquecido da pergunta, quando ele disse:
"Não é uma máscara."
Foi então que eu soube. Ele estava ali. Era o Trauma. Não me lembro do que aconteceu depois. Acho que acordei no dia seguinte, na minha cama. Ou foi de madrugada, na cama de meus pais, tremendo de medo?
Eu não sei onde ele se esconde. Depois daquele dia eu não enxerguei mais as coisas que rastejavam e espreitavam e rondavam e empurravam meus pensamentos e minha coragem para debaixo de um tapete invisível. Eu estava curado. O menino da máscara me curou.
Mas ... espere. Como só pude me lembrar disso agora?
Não era uma máscara.
Não.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
ELOGIO DO ALCOOLISMO
Por Jorginho Demó
Ora, hoje estou sóbrio. Logo, irrito-me.
Porque não posso pôr uma mísera gota’rdente
Da água estonteante em meus lábios sequiosos?
Ficarás tonto, dizem. Ficarás inebriado.
Creio porém que o estado de inebriação é superior à
Lucidez que nos prende às firmes amarras da razão.
Dê-me logo esta garrafa plena de ilusões!
Bebo a sôfregos goles. Sinto escaldar-me a garganta.
Suficiente contudo não é, quero e posso tomar mais
E levo o resto da maldita noite a beber, a beber,
Potencialmente aumentando o tamanho de meu ventre,
Já inchado por esta gula, esta ânsia abominável.
Logo estou bêbado. Logo estou bêbado ainda mais.
Impulsionado pela própria turvação do vinho.
Passam-se alguns minutos. Não agüento mais continuar.
Peço que chamem um táxi, preciso sair daqui.
Corro às ruas antes de ser atendido, perturbado.
Caio na sarjeta, percebo os momentos finais.
Abstraio-me das centelhas a piscar antes que venha
O coma alcoólico, o esperado torpor, a sublimação.
Me deixem morrer. Não me socorram. Adeus.
Dedicado a uma figura que passou em minha vida, em 12/07/2004
Jorginho Demó é um heterônimo de Arthur Ferreira Jr.'.
Ora, hoje estou sóbrio. Logo, irrito-me.
Porque não posso pôr uma mísera gota’rdente
Da água estonteante em meus lábios sequiosos?
Ficarás tonto, dizem. Ficarás inebriado.
Creio porém que o estado de inebriação é superior à
Lucidez que nos prende às firmes amarras da razão.
Dê-me logo esta garrafa plena de ilusões!
Bebo a sôfregos goles. Sinto escaldar-me a garganta.
Suficiente contudo não é, quero e posso tomar mais
E levo o resto da maldita noite a beber, a beber,
Potencialmente aumentando o tamanho de meu ventre,
Já inchado por esta gula, esta ânsia abominável.
Logo estou bêbado. Logo estou bêbado ainda mais.
Impulsionado pela própria turvação do vinho.
Passam-se alguns minutos. Não agüento mais continuar.
Peço que chamem um táxi, preciso sair daqui.
Corro às ruas antes de ser atendido, perturbado.
Caio na sarjeta, percebo os momentos finais.
Abstraio-me das centelhas a piscar antes que venha
O coma alcoólico, o esperado torpor, a sublimação.
Me deixem morrer. Não me socorram. Adeus.
Dedicado a uma figura que passou em minha vida, em 12/07/2004
Jorginho Demó é um heterônimo de Arthur Ferreira Jr.'.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
LICANTROPIA
Agradecimentos ao poeta português Gomes Leal por ter escrito um poema de nome idêntico a este, e outro de nome idêntico ao meu nome de net mais comum, @publicano; tudo isto acabei de saber agora.
Quando a carne se revolta em convulsões malignas,
Fazendo-me contorcer de dor em meio ao caos,
Metamorfoseando minha pele que embora impura
Ainda é humana, abandono a postura dos meros mortais
E torno-me um lobo faminto de caça nos campos urbanos.
De nada adianta a prata ou o acônito contra mim,
Estou acima, pairando sobre estas fraquezas,
Somente uma coisa eu temo, e esta escondo-a
No mais profundo recesso de minha animalidade:
O amor daqueles que em vão tentam me compreender!
Arthur Ferreira Jr.'., em 10/11/2004
Quando a carne se revolta em convulsões malignas,
Fazendo-me contorcer de dor em meio ao caos,
Metamorfoseando minha pele que embora impura
Ainda é humana, abandono a postura dos meros mortais
E torno-me um lobo faminto de caça nos campos urbanos.
De nada adianta a prata ou o acônito contra mim,
Estou acima, pairando sobre estas fraquezas,
Somente uma coisa eu temo, e esta escondo-a
No mais profundo recesso de minha animalidade:
O amor daqueles que em vão tentam me compreender!
Arthur Ferreira Jr.'., em 10/11/2004
Diálogos da Carne
Das anotações secretas de Anna, a Feiticeira:
... deixo a você um legado que eu sei que não compreenderá jamais. Leia este trecho da peça teatral Diálogos da Carne, e eu permitirei que teça invenções a respeito de si mesmo, meu amado.
A NINFA DEMONÍACA: Invada meu corpo com a suavidade de teu hálito, beije-me de forma sedutora e deixe que meu corpo estremeça de prazer. Violente minha alma com teus desejos profanos e faça de mim tua escrava e serva até o fim dos tempos!
O CAVALEIRO CINZENTO: Ajoelhar-se diante de seu corpo, é fazer minha língua conhecer todos os seus segredos. Sermos escravos um do outro é nos libertar da tirania da vida, mergulhar no poço de êxtase que se esconde em sua carne suculenta. Eu a devoro em cada pensamento, ato e desejo.
A NINFA DEMONÍACA: Deixe que seja aquela por quem suspira. Mostre-me todo o fascínio de outros mundos e me torne sua rainha nesta dimensão sombria. Onde todas as sombras dançam ao som da morte e a luxúria festeja como convidada principal desta ceia de orgasmos infinitos.
O CAVALEIRO CINZENTO: A própria morte se desfaz diante de nossa pequena morte, banquete de êxtases prolongados até a eternidade. Como uma fera se delicia com sua presa, eu te devoro; e você me engole e abriga como a própria vida que nos sustenta, fonte de néctares da dor e do prazer ... bebamos a ela.
Autoria Definitiva: The Grey Knight e Neith War
... deixo a você um legado que eu sei que não compreenderá jamais. Leia este trecho da peça teatral Diálogos da Carne, e eu permitirei que teça invenções a respeito de si mesmo, meu amado.
A NINFA DEMONÍACA: Invada meu corpo com a suavidade de teu hálito, beije-me de forma sedutora e deixe que meu corpo estremeça de prazer. Violente minha alma com teus desejos profanos e faça de mim tua escrava e serva até o fim dos tempos!
O CAVALEIRO CINZENTO: Ajoelhar-se diante de seu corpo, é fazer minha língua conhecer todos os seus segredos. Sermos escravos um do outro é nos libertar da tirania da vida, mergulhar no poço de êxtase que se esconde em sua carne suculenta. Eu a devoro em cada pensamento, ato e desejo.
A NINFA DEMONÍACA: Deixe que seja aquela por quem suspira. Mostre-me todo o fascínio de outros mundos e me torne sua rainha nesta dimensão sombria. Onde todas as sombras dançam ao som da morte e a luxúria festeja como convidada principal desta ceia de orgasmos infinitos.
O CAVALEIRO CINZENTO: A própria morte se desfaz diante de nossa pequena morte, banquete de êxtases prolongados até a eternidade. Como uma fera se delicia com sua presa, eu te devoro; e você me engole e abriga como a própria vida que nos sustenta, fonte de néctares da dor e do prazer ... bebamos a ela.
Autoria Definitiva: The Grey Knight e Neith War
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
prisão de tempo
prisão de tempo, por Oedipus
E o pêndulo vacila entre dois extremos que os sábios
Classificariam como idênticos mas que eu
Em minha cínica sabedoria classifico como diferentes
Fecham-se os portões da alma, selam-se as saídas do meu destino
Caminhando por um labirinto de um só caminho e uma só parede
Onde todas as esquinas são como as dobras que apertam meu espírito
E os candeeiros, acesos sob a luz da lua, sonham um dia se elevarem
Além do sol, volto, retorno e recomeço, sento em posição de lótus
Sobre os restos que caem da boca daqueles que me prenderam aqui
Sonho um dia cavar um túnel
Ao dormir ouvindo os ruídos das quimeras do outro lado da parede
Sinto nada se mexer, só ritmo do sangue a pulsar em minhas veias
E eu suponho que algo se esconde ali, no âmago da prisão
Sonho um túnel a cavar o dia
Ato desespero cavou um buraco dentro dos mantos que me abrigam
Rezo, em medo, a ponto de gargalhadas lacrimejarem sob minha pele e ossos
E surpreendo a lágrima em sua doçura a renegar o sal que a gerou
Passam-se os dias, horas e minutos
Maníaco silêncio do outro lado, fascinante agonia nas palmas das mãos
A parede parece sorrir e as estrelas parecem querer cair em meu colo
E eu percebo novamente o pêndulo a tremer ante meus olhos cansados
Passam-se os minutos, horas e dias
Até que a coragem venha para agarrar a haste que rasga os espaços
E a use para rasgar meu próprio coração em chamas,
Inutilmente tornado em cinzas por tanto amor desperdiçado.
Arthur Ferreira Jr.'.
domingo, 7 de novembro de 2010
UM SONHO NO LETHE
De Clark Ashton Smith
Tradução de Arthur Ferreira Jr.'.
Procurando aquela que perdi, cheguei a tempo às costas do Lethe, sob a abóbada de um céu imenso, vazio e ébano, a partir do qual todas as estrelas sumiam, uma por uma. Vinda não sei de onde, uma luz pálida e fugidia, como a da lua minguante, ou a fosforescência fantasmagórica de um sol morto, caiu tênue e sem lustre sobre a torrente obsidiana, e sobre os prados negros e sem flor alguma. Sob esta luz, enxerguei muitas almas errantes, de homens e mulheres, que vinham, hesitantes ou sôfregas, beber das lentas águas que nunca murmuram. Porém entre todas essas, nenhuma partia sôfrega, e muitos que permaneciam contemplavam, com olhos que não enxergavam, o movimento calmo e sem ondas da torrente. À distância, na forma graciosa e alta como um lírio, e no rosto imóvel e altivo de uma mulher que permanecia separada do resto, enxerguei aquela a quem buscava; e, correndo para estar ao seu lado, com um coração onde antigas memórias cantavam como um ninho de rouxinóis, fui ávido em tomar da sua mão. Porém nos olhos pálidos e imutáveis, e nos lábios imóveis e descorados, que achegaram-se aos meus, não enxerguei luz alguma de memórias, nenhum tremor de reconhecimento. E sabendo agora que ela havia esquecido, fugi desesperado, e encontrei o rio diante de mim, de súbito senti minha antiga sede por suas águas, uma sede que um dia pensei satisfazer em muitas e diversas fontes, mas em vão. Abaixando-me apressado, bebi, e levantando mais uma vez, percebi que a luz havia morrido ou desaparecido, e que toda a terra era como a terra de um sono sem sonhos, onde eu não conseguia mais distinguir os rostos de meus companheiros. Nem mais estava apto a lembrar jamais por quê eu desejei beber das águas do esquecimento.
Tradução de Arthur Ferreira Jr.'.
Procurando aquela que perdi, cheguei a tempo às costas do Lethe, sob a abóbada de um céu imenso, vazio e ébano, a partir do qual todas as estrelas sumiam, uma por uma. Vinda não sei de onde, uma luz pálida e fugidia, como a da lua minguante, ou a fosforescência fantasmagórica de um sol morto, caiu tênue e sem lustre sobre a torrente obsidiana, e sobre os prados negros e sem flor alguma. Sob esta luz, enxerguei muitas almas errantes, de homens e mulheres, que vinham, hesitantes ou sôfregas, beber das lentas águas que nunca murmuram. Porém entre todas essas, nenhuma partia sôfrega, e muitos que permaneciam contemplavam, com olhos que não enxergavam, o movimento calmo e sem ondas da torrente. À distância, na forma graciosa e alta como um lírio, e no rosto imóvel e altivo de uma mulher que permanecia separada do resto, enxerguei aquela a quem buscava; e, correndo para estar ao seu lado, com um coração onde antigas memórias cantavam como um ninho de rouxinóis, fui ávido em tomar da sua mão. Porém nos olhos pálidos e imutáveis, e nos lábios imóveis e descorados, que achegaram-se aos meus, não enxerguei luz alguma de memórias, nenhum tremor de reconhecimento. E sabendo agora que ela havia esquecido, fugi desesperado, e encontrei o rio diante de mim, de súbito senti minha antiga sede por suas águas, uma sede que um dia pensei satisfazer em muitas e diversas fontes, mas em vão. Abaixando-me apressado, bebi, e levantando mais uma vez, percebi que a luz havia morrido ou desaparecido, e que toda a terra era como a terra de um sono sem sonhos, onde eu não conseguia mais distinguir os rostos de meus companheiros. Nem mais estava apto a lembrar jamais por quê eu desejei beber das águas do esquecimento.
This work is in the public domain in the United States because it was published before January 1, 1923. It may be copyrighted outside the U.S. (see Help:Public domain).
VIRGO
De Arthur Ferreira Jr.'.
Dedicado a Mestre Montalvan e a Yeats
Veio o sono, e transpus os obstáculos largados no caminho do meu sonhar, com a maior facilidade. Desfiz a existência daquelas pragas que começavam a acumular-se pela terra branca, informe e enevoada que cercava os meus domínios. Eram ervas daninhas: como bromélias feitas de carne, cartilagem, e com um único olho dentro daquela massa gotejante, tresandando a carniça. Sem maiores reclamações, extirpei-as, uma a uma: era meu dever.
Que importava se, na noite seguinte, devia repetir o mesmo processo? Era o meu dever.
Naquela noite o leviatã não viria. Ele começava a rarear suas aparições, mas quando isso acontecia, a colheita daqueles fungos diabólicos era sempre mais pesada. Por toda a planície. E, por isso, eu precisava estar ali, antes que a noite caísse no mundo dos despertos, antes que as presenças dos que dormem tornassem-se multidões.
Dia após dia, noite após noite, a planície parecia aumentar de tamanho. Mais presenças, uma ou outra, era quase imperceptível. Mais presas para o leviatã, mais vítimas incautas para o envenenamento dos fungos.
Mais desespero, mais crimes, mais loucura pela terra dos despertos. Se eu não estivesse ali, a maré turva de sangue tomaria tudo com mais pressa e ímpeto.
O céu malva se retorcia, bem devagar. Era um dia de rotina.
Dedicado a Mestre Montalvan e a Yeats
Veio o sono, e transpus os obstáculos largados no caminho do meu sonhar, com a maior facilidade. Desfiz a existência daquelas pragas que começavam a acumular-se pela terra branca, informe e enevoada que cercava os meus domínios. Eram ervas daninhas: como bromélias feitas de carne, cartilagem, e com um único olho dentro daquela massa gotejante, tresandando a carniça. Sem maiores reclamações, extirpei-as, uma a uma: era meu dever.
Que importava se, na noite seguinte, devia repetir o mesmo processo? Era o meu dever.
Naquela noite o leviatã não viria. Ele começava a rarear suas aparições, mas quando isso acontecia, a colheita daqueles fungos diabólicos era sempre mais pesada. Por toda a planície. E, por isso, eu precisava estar ali, antes que a noite caísse no mundo dos despertos, antes que as presenças dos que dormem tornassem-se multidões.
Dia após dia, noite após noite, a planície parecia aumentar de tamanho. Mais presenças, uma ou outra, era quase imperceptível. Mais presas para o leviatã, mais vítimas incautas para o envenenamento dos fungos.
Mais desespero, mais crimes, mais loucura pela terra dos despertos. Se eu não estivesse ali, a maré turva de sangue tomaria tudo com mais pressa e ímpeto.
O céu malva se retorcia, bem devagar. Era um dia de rotina.
O Santuário Púrpura da Mística Mascarada
De Arthur Ferreira Jr.'.
Dedicado a Mya
Entrei no santuário púrpura da mística mascarada
Como quem busca uma revelação definitiva.
Impressionado com o conteúdo do baú enigmático,
Pus-me a procurar as penas das asas dos anjos
E o pó que se desprendia do couro dos demônios
Que frequentavam o santuário púrpura à luz de velas.
Somente encontrei os vestígios do monólito brilhante
E as pedrarias preciosíssimas que pertenciam à sua alma.
Nada havia, nem de material ou de espiritual no santuário:
Somente um amálgama perturbador desses dois extremos.
Ao finalizar minhas preces fervorosas aos pés da mística mascarada,
Embrenhei-me numa selva de sonhos pseudo-alucinatórios.
Ouvi por toda a madrugada os ruídos e os farfalhares
Dos passos acolchoados da familiar da mística mascarada,
Que a todo instante fazia uma patrulha profana
Por entre os lençóis aconchegantes da cama rente ao chão.
Se não fosse o duro dever de mestre viajante,
Nada me faria deixar a santidade do santuário púrpura da mística mascarada!
31/10/2004, revisão mínima 07/11/2010
Dedicado a Mya
Entrei no santuário púrpura da mística mascarada
Como quem busca uma revelação definitiva.
Impressionado com o conteúdo do baú enigmático,
Pus-me a procurar as penas das asas dos anjos
E o pó que se desprendia do couro dos demônios
Que frequentavam o santuário púrpura à luz de velas.
Somente encontrei os vestígios do monólito brilhante
E as pedrarias preciosíssimas que pertenciam à sua alma.
Nada havia, nem de material ou de espiritual no santuário:
Somente um amálgama perturbador desses dois extremos.
Ao finalizar minhas preces fervorosas aos pés da mística mascarada,
Embrenhei-me numa selva de sonhos pseudo-alucinatórios.
Ouvi por toda a madrugada os ruídos e os farfalhares
Dos passos acolchoados da familiar da mística mascarada,
Que a todo instante fazia uma patrulha profana
Por entre os lençóis aconchegantes da cama rente ao chão.
Se não fosse o duro dever de mestre viajante,
Nada me faria deixar a santidade do santuário púrpura da mística mascarada!
31/10/2004, revisão mínima 07/11/2010
sábado, 6 de novembro de 2010
A FORTALEZA DO FIRMAMENTO
A Fortaleza do Firmamento se abriu, e os homens que lhe faziam o cerco estacaram, incertos. O que eles esperavam era arrasar as muralhas da fortaleza logo ao cair da noite; porém, misteriosamente, os portões foram abertos.
Era uma muralha de arame-farpado dourado, massiva, reluzindo às cores invasivas do meio-dia. Alguns dos mais afoitos, sem esperar a ordem dos generais, investiram contra os portões escancarados. A nuvem de poeira se ergueu, o tropel foi ensurdecedor, e as trombetas de guerra soaram: uma vez na investida, o Povo Invasor não mais se detinha.
Não se detinha, não se deteve, e nunca mais precisou se deter de novo. As hordas continuaram a invadir a Cidade, e a invadir, a invadir, presas no próprio impulso, e aquele movimento provou-se um meio-dia eterno, a Fortaleza do Firmamento era uma miragem na tessitura do tempo, uma ondulação do calor alucinatório tornada sólida, uma armadilha, uma cilada, um Cavalo de Tróia às avessas.
Era uma muralha de arame-farpado dourado, massiva, reluzindo às cores invasivas do meio-dia. Alguns dos mais afoitos, sem esperar a ordem dos generais, investiram contra os portões escancarados. A nuvem de poeira se ergueu, o tropel foi ensurdecedor, e as trombetas de guerra soaram: uma vez na investida, o Povo Invasor não mais se detinha.
Não se detinha, não se deteve, e nunca mais precisou se deter de novo. As hordas continuaram a invadir a Cidade, e a invadir, a invadir, presas no próprio impulso, e aquele movimento provou-se um meio-dia eterno, a Fortaleza do Firmamento era uma miragem na tessitura do tempo, uma ondulação do calor alucinatório tornada sólida, uma armadilha, uma cilada, um Cavalo de Tróia às avessas.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Instilled
by KAY, The Grey Knight
One fateful day I saw myself
Scultping my travails on the surface of a shadow.
This shadow stands by me in moments of despair
This shadow brings to me the glory of this wonder
This shadow, slithering across my face,
Is only my silent, blissful tear.
This tear I sculpt like jagged glass, like frozen pain,
Like rolling sadness, like painful rain.
It's not by my will the ryhyme
Although it certainly makes me feel fine.
This frozen tear I bring to you:
A poem instilled in solid form.
Read it, drink it, swallow it -- it doesn't matter anymore.
One fateful day I saw myself
Scultping my travails on the surface of a shadow.
This shadow stands by me in moments of despair
This shadow brings to me the glory of this wonder
This shadow, slithering across my face,
Is only my silent, blissful tear.
This tear I sculpt like jagged glass, like frozen pain,
Like rolling sadness, like painful rain.
It's not by my will the ryhyme
Although it certainly makes me feel fine.
This frozen tear I bring to you:
A poem instilled in solid form.
Read it, drink it, swallow it -- it doesn't matter anymore.
A FLOR-DEMÔNIO (de Clark Ashton Smith)
Título Original: The Flower-Devil
Tradução: Arthur Ferreira Jr.'.
Numa pia de alabastro, no alto de um pilar de serpentina, a coisa existe desde um templo primevo, no jardim dos reis que governam um reino equatorial no planeta Saturno. Com folhagem negra, fina e intricada como a teia de alguma enorme aranha; com pétalas de um rosa lívido, e púrpuras como o púrpura de carne putrefata; e um caule ascendente, como o pulso peludo e escuro de um bulbo tão antigo, tão incrustrado com o crescimento dos séculos, que lembra uma urna de pedra, a flor monstruosa mantém domínio sobre todo o jardim. Nesta flor, desde os anos das mais antigas lendas, um demônio maligno habita -- um demônio cujo nome e natividade são conhecidos pelos magistas superiores, e pelos misteriarcas do reino, embora uma icógnita a todos os outros. Sobre as flores quase-animadas, as orquídeas ofídeas que se enroscam e ferroam, os lírios quirópteros que à noite abrem suas pétalas arcadas como costelas, e com minúsculos dentes amarelados, banqueteiam-se com os corpos das libélulas adormecidas; os cactos carnívoros que bocejam com lábios esverdeados, abaixo de suas barbas de espinhos amarelados e venenosos; as plantas que palpitam como corações, os brotos que suspiram com um hálito de perfume peçonhento -- acima de todas essas plantas, a Flor-Diabo reina suprema, em sua imortalidade maligna, e inteligência maldosa e perversa -- incitando-as a uma estranha maleficência, a um capricho fantástico, até mesmo a atos de rebelião contra os jardineiros, que continuam com suas tarefas com cautela e tremor, já que mais de um deles já fora mordido, sendo mesmo levado à morte, por alguma flor raivosa e envenenada. Em alguns pontos, o jardim tornou-se selvagem, devido à falta de cuidados dos jardineiros temerosos, e tornou-se um emaranhado monstruoso de rastejantes serpentinos, e de plantas com cabeças de hidra, convoluto e retorcido em si mesmo de tanto ódio letal ou amor venenoso, e tão horrível como uma multidão de víboras e pítons ocupados em lutar.
E, como fizeram seus inúmeros ancestrais, antes dele, o rei não ousa destruir a Flor, por medo de que o diabo, expulso de seu refúgio, possa buscar uma nova residência, e entrar no cérebro ou corpo de um dos súditos do rei -- ou mesmo no coração de sua tão bela, gentil e amada rainha!
This work is in the public domain in the United States because it was published before January 1, 1923. It may be copyrighted outside the U.S. (see Help:Public domain).
Tradução: Arthur Ferreira Jr.'.
Numa pia de alabastro, no alto de um pilar de serpentina, a coisa existe desde um templo primevo, no jardim dos reis que governam um reino equatorial no planeta Saturno. Com folhagem negra, fina e intricada como a teia de alguma enorme aranha; com pétalas de um rosa lívido, e púrpuras como o púrpura de carne putrefata; e um caule ascendente, como o pulso peludo e escuro de um bulbo tão antigo, tão incrustrado com o crescimento dos séculos, que lembra uma urna de pedra, a flor monstruosa mantém domínio sobre todo o jardim. Nesta flor, desde os anos das mais antigas lendas, um demônio maligno habita -- um demônio cujo nome e natividade são conhecidos pelos magistas superiores, e pelos misteriarcas do reino, embora uma icógnita a todos os outros. Sobre as flores quase-animadas, as orquídeas ofídeas que se enroscam e ferroam, os lírios quirópteros que à noite abrem suas pétalas arcadas como costelas, e com minúsculos dentes amarelados, banqueteiam-se com os corpos das libélulas adormecidas; os cactos carnívoros que bocejam com lábios esverdeados, abaixo de suas barbas de espinhos amarelados e venenosos; as plantas que palpitam como corações, os brotos que suspiram com um hálito de perfume peçonhento -- acima de todas essas plantas, a Flor-Diabo reina suprema, em sua imortalidade maligna, e inteligência maldosa e perversa -- incitando-as a uma estranha maleficência, a um capricho fantástico, até mesmo a atos de rebelião contra os jardineiros, que continuam com suas tarefas com cautela e tremor, já que mais de um deles já fora mordido, sendo mesmo levado à morte, por alguma flor raivosa e envenenada. Em alguns pontos, o jardim tornou-se selvagem, devido à falta de cuidados dos jardineiros temerosos, e tornou-se um emaranhado monstruoso de rastejantes serpentinos, e de plantas com cabeças de hidra, convoluto e retorcido em si mesmo de tanto ódio letal ou amor venenoso, e tão horrível como uma multidão de víboras e pítons ocupados em lutar.
E, como fizeram seus inúmeros ancestrais, antes dele, o rei não ousa destruir a Flor, por medo de que o diabo, expulso de seu refúgio, possa buscar uma nova residência, e entrar no cérebro ou corpo de um dos súditos do rei -- ou mesmo no coração de sua tão bela, gentil e amada rainha!
This work is in the public domain in the United States because it was published before January 1, 1923. It may be copyrighted outside the U.S. (see Help:Public domain).
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Poema sem Nome e Sem Memória
Passei o resto do dia procurando as sombras
Da inspiração da noite passada.
Um mistério se desfez em minha mente,
Uma zona inteira de pensamentos que naquela hora
Achei brilhantes ...
Brilhantes espalhados na aurora me surpreenderam
Seu clarão informe logo me confundiu
Ó sombra do dia imperfeito,
Tua luz cobriu meu gênio volúvel:
O capricho de uma ideia errante
Que com certeza nem minha era.
Era de uma sagacidade extrema
O poema que eu vinha aqui compartilhar;
Mas não quis a memória me valer,
O horizonte de uma lembrança fica ao longe
Nunca será alcançada pelos nômades sem causa
Que buscam algo para os desesperar.
Desesperar com a voz de um louco no deserto de sua própria mente
É como estranhar as próprias ideias,
Duvidar de que um dia imaginei algo assim,
Mas isso nunca aconteceu, sobe o turbilhão,
O vento do esquecimento me alucina!
Passe o resto do dia procurando as sombras ...
Da inspiração da noite passada.
Um mistério se desfez em minha mente,
Uma zona inteira de pensamentos que naquela hora
Achei brilhantes ...
Brilhantes espalhados na aurora me surpreenderam
Seu clarão informe logo me confundiu
Ó sombra do dia imperfeito,
Tua luz cobriu meu gênio volúvel:
O capricho de uma ideia errante
Que com certeza nem minha era.
Era de uma sagacidade extrema
O poema que eu vinha aqui compartilhar;
Mas não quis a memória me valer,
O horizonte de uma lembrança fica ao longe
Nunca será alcançada pelos nômades sem causa
Que buscam algo para os desesperar.
Desesperar com a voz de um louco no deserto de sua própria mente
É como estranhar as próprias ideias,
Duvidar de que um dia imaginei algo assim,
Mas isso nunca aconteceu, sobe o turbilhão,
O vento do esquecimento me alucina!
Passe o resto do dia procurando as sombras ...
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
INDÚSTRIA PETROLÍFERA DESPERTA CTHULHU
http://www.youtube.com/watch?v=foddLVyx08E
Não me admiro se algo similar acontecer daqui a uns tempos, do jeito que anda sujo o mar...! Hheehhahhhhgaghagghgggsguugughuauahuahuauaaaa
Não me admiro se algo similar acontecer daqui a uns tempos, do jeito que anda sujo o mar...! Hheehhahhhhgaghagghgggsguugughuauahuahuauaaaa
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