Delicadamente, a grande forma rastejava pela planície negra. Era um ser quieto e peregrino, de cerca de trezentos metros de comprimento por pouco menos de cem metros de largura, e se alguém conseguisse nele subir, estaria a mais ou menos setenta metros de distância do chão.
Suas cores eram o que mais perturbava a paisagem. Aquela terra árida, devastada, nunca vira antes tons tão berrantes e chamativos. Dir-se-ia que um verme ou uma lagarta gigante andava por um pedaço de húmus, se não fosse o trecho de húmus, na verdade, toda uma faixa de terra estéril e abandonada pelo homem.
Mesmo assim, alguns poucos homens arriscavam-se a atravessar aquele ermo, buscando certas ervas esotéricas que cresciam pouco abaixo do solo, como tubérculos ou trufas. Como estas últimas, ninguém sabia criá-las no próprio quintal, nos poucos quintais que haviam restado no mundo. Estes aventureiros, caçadores de plantas que provocavam revelações alucinógenas, as vendiam por um preço exorbitante aos sacerdotes das Terra Castanha.
Um desses caçadores era Dova, uma menina de pouco mais de treze anos. Seus instintos quase sempre lhe diziam onde estavam enterrados os polpos mais maduros e as raízes mais arcanas; os sacerdotes chamavam isso de Prodígio, e abençoavam sua família com moedas de latão.
Nascia o sol e estava Dova contemplando o horizonte, sacola nas costas, cheia dos fungos vivos que infestavam aquele subterrâneo, quando enxergou a grande forma, rastejando pela planície negra. Os raios de sol davam àquela fera pachorrenta a aparência da própria aurora boreal, viva e peregrinando pelos ermos da condenação.
Dova conteve a respiração e retirou um dos fungos de sua sacola, com uma certa cautela (é sabido que eles mordem se forem apertados com muita força), notando a admirável semelhança. E, como todo membro da espécie humana, Dova foi tentada.
Suas cores eram o que mais perturbava a paisagem. Aquela terra árida, devastada, nunca vira antes tons tão berrantes e chamativos. Dir-se-ia que um verme ou uma lagarta gigante andava por um pedaço de húmus, se não fosse o trecho de húmus, na verdade, toda uma faixa de terra estéril e abandonada pelo homem.
Mesmo assim, alguns poucos homens arriscavam-se a atravessar aquele ermo, buscando certas ervas esotéricas que cresciam pouco abaixo do solo, como tubérculos ou trufas. Como estas últimas, ninguém sabia criá-las no próprio quintal, nos poucos quintais que haviam restado no mundo. Estes aventureiros, caçadores de plantas que provocavam revelações alucinógenas, as vendiam por um preço exorbitante aos sacerdotes das Terra Castanha.
Um desses caçadores era Dova, uma menina de pouco mais de treze anos. Seus instintos quase sempre lhe diziam onde estavam enterrados os polpos mais maduros e as raízes mais arcanas; os sacerdotes chamavam isso de Prodígio, e abençoavam sua família com moedas de latão.
Nascia o sol e estava Dova contemplando o horizonte, sacola nas costas, cheia dos fungos vivos que infestavam aquele subterrâneo, quando enxergou a grande forma, rastejando pela planície negra. Os raios de sol davam àquela fera pachorrenta a aparência da própria aurora boreal, viva e peregrinando pelos ermos da condenação.
Dova conteve a respiração e retirou um dos fungos de sua sacola, com uma certa cautela (é sabido que eles mordem se forem apertados com muita força), notando a admirável semelhança. E, como todo membro da espécie humana, Dova foi tentada.
Quanto valeria aquela imensa trufa-da-aurora, vendida aos sábios da Terra Castanha?
Duas semanas depois, no outro lado do universo, as criaturas alienígenas que haviam enviado seu mensageiro, a enorme forma colorida que vagava pelo ermo, criada à distância, a partir da vida do próprio ermo, finalmente recebiam um contato de retorno. Exultaram. Seria fascinante ouvir os relatos mentais do mensageiro, falando sobre as criaturas do terceiro planeta além da estrela amarela.
Entretanto, tudo que ouviram foi uma série de cânticos e súplicas, preces dirigidas a deuses de que nunca haviam ouvido falar, enviadas pelos sacerdotes embriagados e alucinados da Terra Castanha ...
Entretanto, tudo que ouviram foi uma série de cânticos e súplicas, preces dirigidas a deuses de que nunca haviam ouvido falar, enviadas pelos sacerdotes embriagados e alucinados da Terra Castanha ...
EDIT:
Esta pequena fábula acabou se tornando o ponto de partida, o episódio piloto da série experimental de minicontos, a SAGA DOS PRODÍGIOS.
Aproveite e Leia o Episódio Seguinte, descubra o que aconteceu com Dova!
IMAGENS E ILUSTRAÇÕES, AUTORES E FONTES
ResponderExcluir1
http://fotosdenatureza.blogspot.com/2010/04/lesmas.html
2
Another Death, de Rodolfo Troll
http://tocadotroll.blogspot.com/
Gostei de Dova e do fato dela ter tag.
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