segunda-feira, 18 de abril de 2011

ESMAGUE MINHA UTOPIA

O Episódio Treze quase fez o autor Arthur Ferreira Jr.'. perder a simpatia por alguns de seus personagens da SAGA DOS PRODÍGIOS



Não poderia amar um homem de modo tão puro
Até a escuridão perdoou seus caminhos tortos
Aprendi que nosso amor é como um tijolo
Construa uma casa ou afunde um cadáver

Fragmento de um Épico da Mãe-Monstro:
O Tolo Sagrado e o Rei Sem Uma Coroa






O AR SE ENCHEU DE PERFUMES E O INCENSO se dispersou, porque ela não estava tolerando adulações dos sacerdotes naquele dia. A Soberana pôs a mão na testa e inalou os perfumes que ela mesmo gerava. Ela sentia seus poros formigando e a preocupação aumentar. Levantou a outra mão e um dos serviçais se aproximou para receber as ordens:

        “Traga-me Euro.”

        Euro, o Predestinado. Em menos de dez minutos ele entrava no salão da corte da Soberana, e o ambiente se iluminava com as joias douradas que ele usava para adornar seu corpo: braceletes, piercings, braçadeiras, um grande medalhão com o símbolo do clã Adonai, tudo compondo quase uma armadura amarela, âmbar e dourada.

        Entrou e, ao contrário da imensa maioria dos que entravam no salão de audiências, não se prostrou diante da Soberana, porque ela o considerava um igual. O herói mesmo assim demonstrava respeito e esperou aquela bela e esguia mulher, envolta em véus de um azul translúcido que mal escondiam sua própria pele também azulada – uma cor azul celeste coberta por tatuagens turquesa e complementada por um longo cabelo azul-cobalto – dizer a razão pela qual Euro fora chamado.

        “É um mistério,” começou a Soberana, “consulto os deuses e eles não me sabem responder. Recebo só estática em troca de minhas perguntas. Isso me deixa mais aflita.”

        “O que aconteceu?” Euro sabia que a Soberana costumava comentar primeiro as consequências ou interpretações dos problemas antes de mencionar os problemas diretamente, e aprendeu a ter paciência nesses momentos... mas hoje, apesar do protocolo obedecido, Euro estava com uma sensação estranha na garganta. Uma agonia e um sentimento de urgência o levaram a tentar apressar o pedido da Soberana.

        “A espada da inimiga dos deuses desapareceu sem deixar vestígios. Os zelotes não sabem dizer o que aconteceu.” O tom de voz era frio e imparcial, ou pelo menos tentava ser assim. Euro percebeu que era apenas uma tentativa, mas só detectou isto devido à intimidade com a Soberana. “A princípio pensei que havia alguma trama ou incompetência, mas os que a vigiavam não podem mentir para mim, então pela primeira vez em alguns anos... estou sem saber o que fazer a não ser mandar chamá-lo.”

        “Soberana,” respondeu o Predestinado Dourado, “a Torre Vermelha onde o corpo é guardado é de fato muito bem vigiada, e por homens de confiança. Mas ela é também um miliário de peregrinação, muitos vão até lá presenciar a prova de que a Adversária foi derrotada com sua própria espada,” fez uma pausa um tanto dramática e continuou, “só que creio ter sido este o erro. Sei que o cadáver da Adversária é incorruptível e esse fato inexplicável nos serviu para criar um monumento ao fim da revolução e à derrota dos antigos deuses, mas... eu sempre pressenti algo errado, e esse algo acabou acontecendo.”

        A jovem de pele azul que era chamada de Soberana se irritou e revidou, “Euro. Tenho certeza de que não quer questionar minha sabedoria quando o que é preciso é que o problema seja solucionado. É preciso que a katana seja recuperada, não é possível inventar uma reforma na Torre sem despertar suspeitas, então não é uma providência que dure muito tempo.”

       “Não seria talvez oportuno aproveitar o ensejo e acusar os dalai tsu do roubo, Soberana? Eles têm sido uma pedra em nossa paz, e pelo pacto antigo estamos obrigados a tolerá-los, mas um escândalo como esse furto poderia servir a nosso favor.” O herói demonstrava uma seriedade total em seu rosto, que foi respondida com um sorriso amargo de sua parceira e com a resposta:

        “Não mesmo. Isto seria traição e ainda acho que os tsu podem me ser úteis. O que quero é que você saia em busca da espada enquanto a Torre Vermelha passa por uma reforma. Se você conseguir recuperá-la, será uma boa razão para destruir de vez aquele cadáver incorruptível sem parecermos fracos e você fica com a katana como espólio... digo, como símbolo de seu valor na defesa da Terra Castanha.”

        Euro torceu os lábios, “Algum oráculo para me guiar na demanda?”

        “Saia de modo triunfal e espalhafatoso como é de seu costume,” respondeu um tanto sardônica a Soberana, “mas não revele a ninguém onde vai. Depois fique atento porque com certeza alguém vai te seguir, é inevitável. Não sendo uma de suas fãs entre seu povo, interrogue quem quer que seja e extraia indícios.”

        O herói dos neander sacudiu a cabeçorra afirmativamente e apenas comentou, “Espero que seja um oráculo genuíno, porque vou interrogar o espião nem que seja uma de minha admiradoras.” Sorriu e saiu correndo do salão, deixando a mulher que acumulava a posição de sátrapa líder e Matriarca do nomo imersa em seus pensamentos confusos, sua estática na cabeça.

        Ao chegar nas ruas da cidade, o meio-neander foi aclamado por alguns passantes, que gritavam, “Viva Euro! Viva o Predestinado! Viva a Soberana! Viva Berya!”

        Na praça principal correu na direção de sua biga voadora – já a havia deixado à espera, por conta do tal pressentimento – e antes que subisse e desse partida naquele transporte da elite, uma das tecnologias antigas recuperada, fez uma postura de batalha e bradou, “Pelo poder de Adonai!”, suas joias douradas multiplicaram-se como um enxame ávido de besouros sobre seu corpo, e em instantes o uniforme-paradoxo do maior herói da Terra Castanha e do povo neander estava formado: um conjunto de placas bem delineadas, como uma armadura, de aspecto brutal mas peso leve, e um terceiro olho dourado aberto na tiara de aspecto aristocrático que lhe protegia a testa.

        O Predestinado subiu na biga e partiu pela estrada que saía da cidade a toda velocidade, desacelerando logo que estava fora de alcance do olho nu, para esperar quem quer que o seguisse.

        Porém mais à distância enxergou uma cena esquisita: uma mocinha de uniforme-paradoxo branco, ombros à mostra e espinhos prateados enfeitando seu corpo, os cabelos castanho-claros um tanto ondulados. Ela beijava um rapaz também de paradoxo, só que de músculos negros e proteção facial, aberta no momento do beijo.

        Ora, ora, pensou Euro, desconhecidos envergando a veste dos deuses! Hora de abortar o plano inicial... Investiu com a biga pela estrada, gritando:

        “ALTO!”






BAIXE A COMPILAÇÃO DO PRIMEIRO ARCO DE HISTÓRIAS:

4 comentários:

  1. IMAGENS E ILUSTRAÇÕES, AUTORES E FONTES

    1
    http://www.replaceyoursalary.com/work-from-home-blog/blogging/the-holy-grail-of-guest-blogging-tips

    2
    Lavinia Morley no filme The Curse of the Crimson Altar
    http://bluechicksarehot.blogspot.com/2011/01/lavinia-morley.html

    3
    Maria Madalena, O Santo Graal - Artista Desconhecido
    http://www.paintinghere.com/painting/Mary_Magdalene_holy_grail_6408.html

    ***

    Citação Inicial originalmente da letra da música JUDAS, de Lady Gaga
    http://www.cifraclubnews.com.br/noticias/25245-lady-gaga-single-judas-vaza-completo-na-internet-confira-aqui.html?fb_comment_id=fbc_10150162421404068_16813238_10150162597504068#f24d2fea71deae8

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  2. Isso está ficando cada vez mais misterioso e intrigante

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  3. http://sagadosprodigios.blogspot.com/2011/09/esmague-minha-utopia.html

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