quarta-feira, 20 de abril de 2011

ESPADA DE DOIS GUMES

Arthur Ferreira Jr.'. lhes traz o Episódio Quinze da SAGA DOS PRODÍGIOS




Esta fúria que dura mil anos
Logo se extinguirá
Esta chama que queima dentro de mim
Ouço as harmonias secretas
É uma espécie de magia
- Canção secreta dos monges da Rainha Mercúrio


“É UM MISTÉRIO! QUANDO PENSO que temos o controle total, acontece uma coisa dessas.”

        “E a sua comunicação direta com os novos deuses está abalada, você diz.” O homem de cabelos bem penteados e cavanhaque balançava a cabeça. “Minha filha, fez mal em dizer isso a Euro. Mesmo ele tem que reconhecê-la pelo que você é: um símbolo da infalibilidade dos deuses de além das estrelas. Hmmm... talvez haja um bloqueio dos canais. Algo parece estar bloqueando, não? Não perca sua fé nos deuses: é algo externo que está impedindo que você os ouça. Veja o que eles já fizeram por você.”

        A Soberana olhou para baixo e contemplou os vários matizes de seu próprio corpo azulado: cobalto puro nos cabelos, padrões de turquesa cobrindo seu corpo azul-celeste, como tatuagens. Sim, ela era um símbolo de que havia se tornado mais como os deuses alienígenas... e menos humana.

        “Pai, minha sabedoria está comprometida,” falou a Soberana Berya, em tom amargo. “O que o senhor aconselha?”

        “Vamos até a Torre Vermelha,” respondeu o Alto Sacerdote Mordekai. “Não acho que encontraremos nenhuma outra pista lá, mas pode ser que hajam problemas adicionais e se for esse o caso, seus poderes serão de grande valia enquanto Euro está fora.”

        “Então, fique aqui no palácio enquanto...”

        “Não...” sorriu o sacerdote com um brilho estranho nos olhos. “Acho melhor ir com você. Quero observar suas reações e talvez sugerir algum bálsamo contra esse bloqueio. Além disso... quero rever o cadáver da Adversária. Ele me conforta, me dá a sensação de que detemos as forças da barbárie que ameaçam a Terra Castanha.”

        Ele caminhou pelo salão como se estivesse despreocupado, divagando: “Há centenas de anos, a barbárie que dominava a Terra Castanha – não se chamava então Terra Castanha, o grande Ruiz, o Castanho não havia nascido – grassava sem limites, em guerras, até que os deuses se manifestaram e a religião unificou o povo. Mas, com o tempo, a separação entre os nomos e as cidades se intensificou... e as intrigas internas aumentaram... e há poucos anos atrás estávamos a beira de uma ruptura que poderia destruir nossa sociedade. Cairíamos de novo na barbárie, entende, minha filha? Mas a vinda dos novos deuses, dos verdadeiros deuses, impediu que isto acontecesse, unificou o povo mais uma vez e agora eles têm heróis como você e Euro para servir-lhes de ídolos vivos. Alguns poucos não gostaram da nova ordem e foram sufocados... mas você sabe de tudo isso, não? Eu gosto de repetir e repetir para você para que não esqueça; eu sei que não esquecerá, mas me agrada repetir. Os dalai tsu perderam toda influência, ficaram contidos nas margens da Terra Castanha, especialmente depois que sua campeã – embora eles jamais tenham admitido a ligação com ela – ousou se erguer contra a nova ordem.”

        “E mantemos o inexplicável cadáver que não se decompõe no templo... e os dalai tsu vivos para que não se tornem mártires.” A voz de Berya encerrou a prelação, e toda sensação de amargura, indecisão e irrealidade que a oprimia foi embora.

        “Exatamente, muito bom, filhota, as mesmas palavras de sempre,” sorriu novamente Mordekai, o sol que se filtrava pelos vitrais batia em seu rosto e ele sequer piscava. “É essa a verdade. E gosto de contemplá-la de novo: vamos ao templo da Torre Vermelha.”

        ***

Azif torcia-se de ciúmes e segurava forte as bainhas das espadas em suas mãos. Euro pensava, acordei de um logo sono... e esse rapaz que Dova abraça é um dos dalai tsu, um herege... mas não, isso de hereges era coisa do sonho... e balançava a cabeça devagar para expulsar a sensação de paradoxo que o tomava por dentro.

        Dova apertou o rapaz contra si durante cerca de dez segundos, e ele parecia espantado, mas segurou-a pela cintura, e uma de suas mãos subiu para as costas parcialmente nuas da garota – isto fez Azif dar um passo na direção deles, mas antes que pudesse tomar alguma atitude, a própria Dova desvencilhou-se do abraço e olhou o rapaz com espanto. Ele dizendo, “O quê?..” ou algo do gênero, mas mas a Prodígio Branco materializou em sua mão esquerda o báculo – sua armadoxo genuína – e com ele golpeou o rapaz no rosto, no queixo onde ela antes havia sido atingida por Euro; no crânio quando ele foi caindo de dor; nas têmperas, nos ombros, no ventre... os dois outros Prodígios se assustaram e Azif chegou do lado de Dova tentando segurar sua mão (mais lento, cansado após a batalha com Euro, droga! pensou Azif), mas não havia mais jeito: o rapaz estava morto no chão.

        Dova virou-se para os dois rapazes, quase espumando de raiva, os dentes trincados, sujos do sangue da batalha anterior, os ombros expostos tensos, a prata de seu uniforme-paradoxo reluzindo ao sol, os olhos raivosos piscando forte:

        “Este... NÃO... era... MEU IRMÃO!”




LEIA O EPISÓDIO ANTERIOR
BAIXE A COMPILAÇÃO DO PRIMEIRO ARCO DE HISTÓRIAS:

2 comentários:

  1. A citação no começo do episódio é na verdade uma tradução livre de trecho de It's a Kind of Magic, da banda Queen.

    IMAGENS E ILUSTRAÇÕES, FONTES E AUTORES

    Todas de Mario Wibisomo
    http://www.dumage.com/impressive-digital-girls/

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  2. http://sagadosprodigios.blogspot.com/2011/09/espada-de-dois-gumes.html

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