terça-feira, 19 de abril de 2011

DE OLHOS BEM ABERTOS

Arthur Ferreira Jr.'. começa a tripudiar de seus personagens no Episódio Catorze desta SAGA DOS PRODÍGIOS





Curai o mundo
Fazei dele um lugar melhor
Para mim, para ti
E para toda a espécie humana

Hino a Mikhail-Jehova


“ALTO!” gritou Euro, e os dois puderam perceber que o uniforme-paradoxo amarelo do meio-neander havia sofrido alterações também radicais: era praticamente uma armadura de placas, e havia aquele olho macabro no meio de uma tiara dourada – o mesmo olho estranho que Dova havia fechado quando conteve a convulsão do paradoxo de Euro.

        Ele vinha numa biga planadora – coisa muito rara que Azif vira seu pai pilotar uma vez, roubada de um alto comandante dos zelotes que havia caído em desgraça. A pequena nave não voava mais alto que vinte centímetros do chão e era muito sensível a terreno irregular – se fosse forçada numa pedreira, por exemplo, poderia capotar. Por isso, além de ser rara, era pouco usada.

        “Tem alguma coisa estranha com ele,” sussurrou Dova tão logo soltou os lábios de Azif, e sacou a katana.

        “A espada da Adversária!” bradou Euro enquanto saltava da biga a sete passos dos dois Prodígios. “Não sei quem vocês são, mas se antes teriam de me acompanhar à cidade para registrar seus uniformes, agora estão presos. E me dê essa katana, mocinha.”

        “Dova, espere...” Azif tentou impedir a Prodígio Branca, que manteve a mão da espada baixa e ergueu a mão esquerda para tentar alcançar o olho dourado, como fizera da outra vez. Mas não só Azif não conseguiu deter a agora impetuosa garota, como, apesar da guarda de Dova não estar aberta, Euro revidou a tentativa de bênção com um estrondoso murro no queixo.

        Dova caiu a uns seis metros de distância, ainda agarrada à katana. A nova proteção do uniforme-paradoxo negro fechou-se ao redor da boca de Azif e sua voz saiu abafada e em desespero, “Seu louco!”, enquanto sacava a própria armadoxo, a cimitarra sombria. Quase inconsciente, no terreno fora da estrada, Dova percebeu que estava no gramado rasteiro que enxergaram antes, e não na pradaria.

        “Muito bem, infrator, herege ou pior;” reagiu Euro com um sorriso de dentes trincados. “Se é briga que quer, pode acabar morto pelos punhos do Predestinado.”

        E avançou na direção de Azif, que se esquivou com seu quase teleporte. Consegui fazer isso de novo, pensou o Prodígio Negro, por que não consegui antes escapar do lodaçal, então? Aproveitando a surpresa do Prodígio Amarelo, que por dentro pensava, ele não tremeu ao ouvir o nome do Predestinado e agora para onde foi?, Azif bateu com o lado da cimitarra no flanco do irmão.

        Só para ele saber que eu posso acertá-lo a qualquer momento... e gritou: “Euro! Sou eu, Azif, seu meio-irmão! Acorde!” enquanto teleportava para o lado de Dova e se interpunha entre esta e o meio-neander furioso.


        “Achertche elhe no tercheiro oio com icho...” Azif ouviu a voz débil de Dova que quase não conseguia estender-lhe a katana. Como assim? Vou confiar em você, Dova. De qualquer forma, depois daquilo, Azif estava doido para dar uma surra no irmão mais novo, sentia com uma intensidade inédita. Como ele ousou agredir Dova? E agarrou a espada, passando a cimitarra para a mão esquerda.

        O meio-neander então investiu mais uma vez assim que livrou-se daquele atordoamento inesperado. Esses hereges vão pagar. Azif também correu na direção dele e parecia que haveria uma colisão na qual o Prodígio Negro levaria a pior... mas o soco tremendo de Euro atingiu o nada, seu inimigo (Meio-irmão? Que gozação era aquela? Inimigo e herege!) esquivando-se mais uma vez de modo impossível, e no ritmo daquele movimento que quase rasgava o espaço, Azif fez que golpeava Euro com a cimitarra.

        O ruivo aparou o golpe com um dos punhos dourados... finta! Azif aproveitou a distração e cravou a katana de Charya no olho dourado da nova versão do uniforme amarelo.

        O gigantesco rapaz desabou. Seu paradoxo se desfez em milhares de insetos, besouros, escorpiões, aranhas, minúsculos bichos dourados, reorganizando-se na forma das joias que antes cobriam o corpo de Euro.

        Azif ainda estava com a katana na mão – o golpe havia sido suficientemente preciso para penetrar apenas o necessário. Ou mais ou menos isso: a testa de Euro estava sangrando.

        Dova se arrastava até o rapaz caído, e Azif a impediu, “Mas o que é isso? Deixe que eu te ajudo...”

        “Me lheve até elhe...” Azif notou que a mandíbula de Dova havia sido deslocada pela potência do murro de Euro. Apesar de irritado com o irmão – e de um jeito excessivo, começou a perceber – o Prodígio Negro carregou a garota até o corpo desmaiado de Euro.

        Dova estendeu a mão esquerda e enfim pôde tocar na testa do meio-neander, agora sem a tiara do terceiro olho, de onde fluíam filetes de sangue. A menina havia se obrigado a tocar na testa – alguma coisa dentro de si dava-lhe a ideia de aproveitar a derrota do Prodígio Amarelo e esganar seu pescoço exposto.

        Mas não o fez, e Azif sentiu o estremecimento do corpo da garota. Assombrado viu que Dova mexia a boca, experimentando-a, como se não houvesse mais ferimento algum, e assim que ela tirou a mão da testa de Euro, viu também que aquela perfuração havia cicatrizado. O ruivo abriu os dois olhos, “Dova?... Azif!”

        Havia muito a ser dito e perguntando naquele instante, se Dova não percebesse alguém que chegava pela estrada e parecia ter presenciado toda a batalha. Desvencilhou-se afobada de Azif e, correndo, foi abraçar o rapaz de pouco mais de vinte anos, barba por fazer, roupas de fazendeiro.

        “MANYU! Manyu Daury! Meu irmão...” chorava nos braços do rapaz. “Eu pensei que você estivesse morto!...”




BAIXE A COMPILAÇÃO DO PRIMEIRO ARCO DE HISTÓRIAS:

3 comentários:

  1. O blogspot me sacaneia e não quer deixar incluir nenhuma imagem. Isto me faz decidir migrar assim que tiver tempo, para o wordpress.

    Quando ele deixar eu edito com imagens.

    Citação inicial é uma livre tradução de trecho de "Heal the World", de Michael Jackson.

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  2. Ele deixou postar, mas "diagrama" tudo meio torto... dá raiva

    IMAGENS E ILUSTRAÇÕES, FONTES E AUTORES

    1
    Meaningless Desconstructionist Kingpin, de Camilla d'Errico
    http://www.camilladerrico.com/paintings/

    2
    Mostra o nome da estilista, Linh Nguyen, mas não o fotógrafo ou a modelo
    http://www.dripbook.com/Linh/book/beauty-ii/?utm_source=facebook&utm_medium=db_post&utm_content=fb_manual&utm_campaign=drip20090911#670635

    3
    Forest Beastie, de Camilla d'Errico
    http://www.camilladerrico.com/paintings/

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  3. http://sagadosprodigios.blogspot.com/2011/09/de-olhos-bem-abertos.html

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