uma curta história de feitiçaria e planos dentro de planos, por Arthur Ferreira Jr.'.
O Espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.
Marcos 14:38
"POR QUE USA ESSE NOME, MESTRE? Com toda certeza não é um nome que pais normais dariam a um filho."
"Porque sou um rei. E meus pais não eram tão normais, mas é verdade que este nome de rei não é o nome que ouvia na infância." As sombras se alongavam ao redor do velho, parado na tenda diante do sol que se punha. "Sou um rei em exílio, numa terra estranha. E como tal ... sou obrigado a fazer coisas tão indignas como as que fazia o indigno rei do nome que uso."
"Um rei, mestre? Será que um dia serei digno de ser de fato herdeiro do senhor?"
"Isso não será preciso. Basta reconhecer que também você é um rei em exílio ... todos nós, yogs, somos reis divinos em exílio; apenas facetas infradimensionais de seres poderosos, praticamente infinitos, plenos de magia – mas ainda assim, nobres por sermos sua, de certa, forma, descendência."
"Compreendo ..."
"Não. Não compreende." O velho tossiu, seu rosto se curvou como se fosse pôr a mão na boca para abafar a tosse; mas, como era natural para ele, não o fez. "Como não compreende a necessidade de tornar-se necessário, antes de realmente governar; já que me aborreceu, mais cedo, com perguntas sobre meu plano em andamento."
"Mas, ainda não percebi meu papel nele, mestre."
"Vê o deserto diante de nós?" O velho voltou seu rosto macilento, embora firme, em minha direção. Seus olhos brilhavam com sagacidade e seu cabelo cinzento e encanecido ondulava com o vento, acumulando pequenos grãos de areia. Sorria sarcástico, mostrando os dentes um tanto amarelados. "Toda essa distância daqui até o horizonte é a distância entre nós e o passado – seu presente – o alvo de meu plano. Sua tarefa é assegurar que estará aqui, me chamando de mestre ... meu discípulo."
"..."
A visão desvaneceu-se, embotando como um filme estragado, e eu sentia o zumbido dos insetos do deserto assomarem meus ouvidos; era excruciante. Tudo foi ficando mais escuro, era a noite assombrosa e total do deserto, e consegui me controlar para acordar de verdade.
A luz do sol penetrava pela janela, e fiquei um tanto ofuscado depois de ter estado imerso naquelas trevas ... o pior daquelas trevas do sonho, era que obscureciam as lembranças do que eu havia ouvido – e dito – na conversa com alguém ... parecia-me um velho ... mas mesmo a lembrança do rosto dele se embotava como ... sim, como um filme estragado.
Há tanto tempo não tenho um sonho normal.
Eu sou Virgílio Mago, e adormeci na sala da casa de meu pai, a casa vazia que me causava tanto cansaço. Preciso contratar outra pessoa para manter as coisas limpas, em ordem ... discreta, e que não durma na casa, por mais que tenha espaço e cômodos livres.
Era tão perigoso dormir na casa, dormir em todo o bairro de ***, mas eu havia dominado o perigo, e agora ele era menor graças a meus esforços.
Só que, por conta disso, nenhum sonho mais era normal desde que comecei a estudar a sério a magia, a yog-sothothery. Todos, projeções astrais, caminhadas pela planície onírica de Thangar-Baru ... tornando os sonhos de meus vizinhos mais seguros.
E, se havia tido um sonho vago, como qualquer outra pessoa, seria isso um bom ou mau sinal?
Descanso merecido ... ou um descuido mortal?
IMAGENS E ILUSTRAÇÕES, AUTORES E FONTES
ResponderExcluir1
William Blake, O Ancião dos Dias
Essa imagem de Urizen me parece retocada; não tenho certeza, em todo caso, a encontrei em
http://armageddonconspiracy.co.uk/Golgonooza(1814282).htm
2
Return of the Sorcerer
http://www.eldritchdark.com/galleries/inspired-by-cas/
3
The Weaver in the Vault
http://www.eldritchdark.com/galleries/inspired-by-cas/
Ah ...
ResponderExcluirClaro.
A expressão "planos dentro de planos" é de Frank Herbert.
Interessante.
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